O trabalho de Sérgio Pombo tem «duas vertentes assinaláveis: uma mais figurativa e outra mais relacionável com um sistema expressivo de forças», como diz Jorge Molder num catálogo de 2001 («Projecto da exposição», in Sérgio Pombo, 2001, CAM, p. 5). Nos anos 70, domina a sua vertente mais figurativa, influenciada pela Pop Art.

 

Nestas obras, duas pequenas esculturas de figuras femininas em biquíni oscilam sobre o canto de um plinto – em Figura Feminina na Água, sobre um paralelepípedo acentuado na vertical, e em Figura Feminina na Praia, sobre um plinto acentuado na horizontal.

 

A coexistência de uma forma geométrica e de um corpo humano que habita a sua inospitalidade induz, nos dois casos, a sensação de fragilidade ou mesmo de solidão das personagens. Parecem esperar algo de iminente, ou uma surpresa que deverão enfrentar sem ajuda. Cada figura está recortada de forma a ser encostada à parede, que assim surge como barreira e factor de imobilização.

 

O biquíni, peça de roupa revolucionária, tornada símbolo de afirmação jovem, facilita a evocação do ambiente de praia e de passeio na areia ou na água, naturais e expectáveis no contexto português.

 

Com linhas simples e formas fáceis de apreender, Pombo representa uma situação banal, na qual a dimensão do corpo humano é relativizada em relação à escala dos sólidos em que se inscreve – misteriosas e anónimas, as figuras parecem confrontar-se com a restrição espacial e com a vastidão simbólica destes cenários minimais.

 

AG

Novembro de 2011