- 2005
- Bronze
- A definir
- Inv. 05E1363
Francisco Tropa
S/ Título
Francisco Tropa (1968) iniciou a atividade artística nos anos 90 e tem desenvolvido preferencialmente o seu trabalho nos domínios da escultura e da instalação, num percurso complexo, centrado em reflexões metafísicas e temas antropológicos e filosóficos, com questões intemporais sobre a natureza e a origem e o fim da arte e da vida. As suas obras revestem-se de um carácter enigmático sempre assumido pelo artista que, por considerar indizível e indecifrável o enigma e jogo da arte, rejeita revelar a sua visão e interpretação da própria obra.
No seu trabalho, as dicotomias vida/morte e mortalidade/imortalidade manifestam-se seja através da presença de determinadas referências materiais das peças, dos elementos e figuras que as constituem, seja pela recorrente alusão inclusão de dimensões temporais, ciclos de vida e estádios de passagem. São ainda muito frequentes referências aos universos da arqueologia e da antropologia e à disciplina da escultura em si, à sua origem e história, como às técnicas e à tradição oficinal da prática escultórica.
Esta peça Sem título (2005) evidencia uma intervenção expressiva dessas linhas tangenciais do seu trabalho. Nela observamos uma estrutura semelhante a uma pira funerária sobre a qual permanece um esqueleto humano realizado em bronze. Se normalmente Francisco Tropa trabalha com materiais naturalmente frágeis como a areia, a terra, o barro e a madeira, nesta peça a matéria escolhida é por excelência associada às qualidades de resistência. Pelo bronze, considerado um metal eterno e sagrado, chega-se necessariamente à tradição da escultura e, de passagem, à especulação sobre a imortalidade.
Todavia, apesar da durabilidade do bronze e da sensação de solidez estrutural do suporte da figura, a peça, em si e no ritual fúnebre, não deixa de sugerir a fragilidade através da invocação da condição mortal, da degradação e desaparecimento do corpo orgânico, da morte dos seres. Essa impressão é até acentuada pela escala e posição do corpo e pela presença de finas camadas de metal, restos excedentes não removidos na fase de acabamento e definição da figura escultórica.
Se nela observamos semelhanças com outros trabalhos em que a morte e o processo escultórico são evocados por Tropa, por exemplo em Cabeça (2005, peça constituída por um crânio em bronze exibida juntamente com a respectiva caixa de fundição) ou Gigante (2006, que apresenta esqueletos em bronze), aqui a ligação entre a incineração e a fundição é evidente, sendo a primeira um dos processos mais primitivos e remotos praticados pelo homem e a segunda uma das técnicas mais antigas de criação escultórica. Implícito no jogo destas correspondências é também o sentido metafórico de ambos os processos e o papel do fogo nos rituais de passagem da condição mortal à eternidade.
Sandra Vieira Jürgens
Outubro 2014
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Altura | 186 | cm | |
Profundidade | 77 | cm | |
Largura | 193 | cm |
Tipo | Aquisição |
Data | 16 de Novembro de 2005 |
A Partir da Colecção |
CAMJAP/FCG |
Curadoria: CAMJAP/FCG |
25 Julho de 2006 a 29 Abril de 2007 Museu do CAMJAP - Piso 01 |
Comissariado: Jorge Molder e Leonor Nazaré |