Desde a segunda metade da década de oitenta, momento em que iniciou a sua atividade artística, Pedro Sousa Vieira (1963) tem desenvolvido um processo de produção criativa no qual vai expandindo e variando ciclicamente o uso de uma constelação de suportes e meios, entre eles o desenho, a pintura, a instalação, a escultura, a assemblage, a colagem, a fotografia e o vídeo.

Os trabalhos desta série resultaram de um período de produção do artista dedicado particularmente à prática do desenho e fazem parte de um conjunto de quarenta trabalhos expostos na mostra individual Desenhos 1992/1993, realizada na Galeria Alda Cortez, em 1994.

É fundamentalmente um desenho sustentado na exploração da linha e da bidimensionalidade, com figuras e formas plásticas que podem constituir representações esboçadas de animais e figuras humanas, sugestivamente incorpóreas. Evidenciando um processo de realização contínuo, as suas obras envolvem a disposição orgânica e informal dos elementos, intuindo-se nelas a força expressiva e dinâmica da representação e a gestualidade livre do processo da sua construção. Nelas avulta igualmente a desenvoltura de movimentos e a ocupação espontânea da composição, a velocidade rápida e a intensidade do traço a carvão sobre o papel, de dimensão A4, que é utilizado pelo artista em ambos os lados. Sem desencadear uma profusão de leituras, a obra acentua a força evocada de um exercício experimental sustentado na dimensão intuitiva do desenho. A qual, inclusivamente, não rejeita as marcas do manuseamento e o pó fino que se desprende da matéria, manchando e pigmentando o papel branco, vestígios assumidos de um trabalho fascinado pelos seus meios de expressão – e pela procura concreta destes.

Sandra Vieira Jürgens

Outubro 2014