Ângelo de Sousa realizou durante a década de 1970 uma série de filmes de cunho experimental, sem qualquer preocupação narrativa. Quando frequentou a Slade School of Art e a St. Martin’s School of Fine Art em Londres (1967-1968), Ângelo de Sousa teve oportunidade de ver o cinema de Stan Brakhage (1933-2003) e Andy Warhol (1928-1987), e a relação com estes autores norte-americanos pode ser estabelecida através desse contexto não-narrativo.

 

Ribeiro inclui-se num conjunto de trabalhos de vídeo que Ângelo de Sousa realizou entre 1972 e 1978, marcados por um registo em que a câmara se aproximava do chão. Por outro lado, enquadra-se também nos filmes cujos temas maiores são motivos naturais: vegetação, água a correr, pedras (Ribeiro), flores (Flores Vermelhas, 1974), árvores (Marmeleiro, 1974), plantas (Sombra de Trepadeira, 1974). Estas obras caracterizam-se pelas imagens coloridas e pelos estimulantes jogos visuais, obtidos através do desfoque da imagem, os efeitos cinéticos e a intensidade lumínica.

 

Existe uma relação evidente entre a obra fílmica de Ângelo de Sousa e a sua pintura, referindo o próprio artista que as imagens dos seus filmes não sofreram apenas influência dos seus trabalhos passados (veja-se as duas obras sem título, I e II, de 1966), como influenciaram os seus trabalhos futuros. Neste sentido, Ribeiro assemelha-se às pinturas coloridas que vieram a surgir posteriormente (veja as obras da série Pinturas na coleção do CAM: 1973, 1974, 1983). Esta semelhança torna-se ainda mais notória por causa da apresentação em câmara lenta, que preenche o ecrã com uma imagem desfocada repleta de cores.

 

A paisagem particular apresentada em Ribeiro é, ainda, uma espécie de auto-retrato escondido na natureza, uma vez que, em determinados momentos, o própria artista está presente no filme.

 

 

PR

 

Outubro de 2011