Esta pintura exemplifica uma das linhas de composição do plano pictórico seguida por José Escada a partir dos anos 70.

Temos agora um conjunto de planos de cor sobrepostos que se destacam do fundo, mantendo-se, todavia, o jogo entre positivo e negativo. Surgem silhuetas a negro que demonstram uma maturação do desenho dos contornos, por um lado, subsistindo ainda o desenho de tendência abstractizante em que o trabalho do gesto continua a marcar presença, como se pode verificar nos arabescos que dominam a parte esquerda do quadro. Mas neste percurso desenvolvido pelo pintor, destacam-se figuras que estabelecem uma relação mais directa com o real. Ao invés de se revelarem, através de uma técnica que faz surgir as formas como se estas fossem iluminadas por trás, as figuras aparecem projectadas pela sombra, visível no delinear da silhueta de Cesariny, e aproximando-se do modo de representação explorado por Lourdes Castro.

Este retrato aponta, ao mesmo tempo, uma relação relativamente próxima com o poeta-escritor Mário Cesariny, que Escada conheceria do Café Gelo, tertúlia em que ambos participavam a par de João Vieira ou René Bertholo, entre outros.

ASR