• 1970
  • Papel Arches
  • Grafite
  • Inv. DP1098

Júlio Pomar

Retrato de Alberto Lacerda (?)

“O outro — aparição, descoberta, revelação, enigma, como se a frequentação (são retratos das mulheres, dos amigos) o tornasse sempre mais misterioso. Os retratos são percorridos por dois movimentos: por um gesto, um modo de olhar, uma postura, sugerir o que cada um teria de mais seu, o que cada um mais é; e conservar também, cuidadosamente, o intervalo que para sempre o distancia do pintor. Não querer fazê-lo meu, deixá-lo como é, não mexer muito. Em vez da violência dos “desvelamentos”, o reconhecimento do segredo do outro. Só isso o pintor oferece, um retrato que o modelo saberá entender sem ter de o decifrar. Os retratos escutam os passos dos habitantes da vida do pintor. Autor em busca das suas personagens, nunca saberá ao certo quem elas são, quem elas foram.”*

 

Retratos íntimos que ameaçam desvanecer-se, como afirma Fernando Gil, estas obras acompanham cronologicamente um período em que o género do retrato assume centralidade na pintura de Pomar. Data precisamente de 1970 o início da elaboração do retrato de acrílico sobre tela de Almada (pertencente à colecção do CAM), inaugurando um ciclo onde contam figuras públicas e do círculo privado do pintor. No entanto, embora seja uma produção paralela, estes retratos a lápis diferem completamente desses retratos a acrílico sobre tela. As cores saturadas, o recorte nítido das formas, a solidez da sua presença estão completamente ausentes destes retratos a lápis. Como se o meio escolhido fosse precisamente ao encontro da intimidade partilhada, convocando, também no final, um tipo de observação e percepção totalmente distintas, que obrigam a uma aproximação que, porém, nunca revela completamente a imagem, salvaguardando-a. Íntimos na sua génese, íntimos permanecem, mesmo quando expostos.

 

Centralizado na composição, a figura do retratado emerge do branco do papel. Mais do que o retrato de um rosto, parece a tentativa de fixação de uma pose, de uma postura, de um olhar característicos do retratado. A figura, sentada, é captada no momento em que se volta para o desenhador e, assim, também para nós. O corpo, representado a linhas muito ténues e sintéticas, quase que se desvanece, se funde ou confunde com o papel, com ele se dilui. O rosto, de perfil, numa torção, ganha mais concretude, já que a expressão facial e o cabelo recebem uma mancha um pouco mais carregada de grafite. Mas mesmo a representação do rosto, que assim focaliza o nosso olhar, é esbatida, recusa a nitidez do contorno ou sequer de uma representação volumétrica, captando sobretudo o movimento do retratado a voltar-se para o observador. O desenho parece assim adquirir uma dimensão temporal, como se o que vemos com maior nitidez em breve ameaçasse também sumir-se na brancura do papel.

 

* Fernando Gil, Pomar: Os Retratos dos Anos 70/ Moradas do Pobre Pintor: Colagem e Glosa em Homenagem a Júlio Pomar, Caixa Geral de Depósitos/ Imprensa Nacional – Casa da Moeda,  1987, p. 10. 

 

 

 

Luísa Cardoso

Fevereiro 2015

TipoValorUnidadesParte
Altura76,2cm
Comprimento57cm
Tipo assinatura e data
TextoPomar 70
Posiçãocanto inferior direito
TipoA definir
DataA definir
Atualização em 23 janeiro 2015

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