• 1973
  • Tela
  • Tinta acrílica
  • Inv. 80P574

Ângelo de Sousa

Pintura

A cor é para Ângelo de Sousa uma questão de escolha, de organização e de intensidade, e mesmo num só traço pode dar-se uma infinidade de variações. Do traço facilmente se passa à avaliação de fatias de cor em desenhos e pinturas: tiras em que entala a figura ou inscreve sinais, faixas contornadas pela cor complementar, ovais e gomos vivos, placas e camadas, frações cromáticas que descem e se juntam num vale ou num arco-íris.

 

Trabalhos como Geométrico Grande de 1967, feito de triângulos coloridos mantidos entre o plano e o volume pela combinação de efeitos ópticos dados pela cor e posição relativa de cada polígono, ou trabalhos com pequenas pintas de muitas cores, no mesmo ano, pré-historicizam a impregnação sucessiva das diferentes parcelas cromáticas que algumas pinturas de 1972/73 já apresentam em grau avançado, com pequenas manchas e camadas ainda perceptíveis à superfície e que as pinturas daí para a frente vão assumir plenamente: é o caso das telas inteiramente submersas numa mesma tonalidade amarela, laranja ou verde em que se entrevêem com dificuldade as camadas soterradas de outras cores, mas em cuja pulsação está o segredo duma superfície densa, intensa e cintilante.

 

A passagem constante da demarcação à contaminação dos territórios estende-se a diferentes trabalhos ao longo das décadas de 1970, 1980 e 1990. Fundo e forma partilham um mesmo plano e, não raramente, uma linha geométrica ténue solicita um certo esforço de percepção. As linhas marcam fronteiras que não dividem nenhuma diferença de natureza. A profundidade nestas pinturas é geológica e não representativa. Refere-se a camadas e não a pontos de fuga. Vive de imperceptibilidades e da submersão duma densidade cromática sob a cor dominante. Nos Monócromos as cores pesam debaixo de outras, e só uma linha que se quebra em dois ângulos quase invisíveis de tão abertos, ou a inclinação muito subtil da linha que divide o que podem ser mosaicos lembra essa latência.

 

Uma das mais frequentes constelações vocabulares dos textos sobre Ângelo de Sousa é a que reúne conceitos como despojamento, economia, nudez estrutural, essencialidade, rigor, vazio espacial, pureza, estilização, vocabulário elementar, despido e mínimo. Estas atribuições permitem que se tenha usado muito a referência ao minimalismo para falar de Ângelo de Sousa . No entanto, o programa minimalista americano nunca foi o seu. Ernesto de Sousa explicou-o bem num artigo publicado na revista Colóquio-Artes de Junho de 1975, em que diz que «todas as operações de A.S. revelam uma investigação rigorosa e lógica no sentido “minimal” mas sem que isso corresponda a um acerto pelo minimalismo».

 

Sobre a depuração que pretendia, ficou célebre a frase de Ângelo de Sousa: «Um máximo de efeito com um mínimo de recursos; um máximo de eficácia com um mínimo de esforço; um máximo de presença com um mínimo de gritos».

 

 

Leonor Nazaré

Maio de 2013

 

TipoValorUnidadesParte
Altura170cmsuporte
Largura200cmsuporte
Tipo assinatura
Tipo data
TipoAquisição
DataSetembro de 1980
Entre Duas Luzes - Obras da colecção do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
Lisboa, Assembleia da República, 2004
ISBN:972 556 365 4
Catálogo de exposição
Linhas de Sombra
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian e Centro de Arte Moderna, 1999
ISBN:972-635-115-4
Catálogo de exposição
Entre Duas Luzes - Obras da colecção do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
Jorge Molder
Curadoria: CAMJAP/FCG
Novembro de 2004 a Fevereiro de 2005
Assembleia da República
Exposição realizada na Assembleia da República.
Linhas de Sombra
Fundação Calouste Gulbenkian
Curadoria: Fundação Calouste Gulbenkian
29 de Janeiro de 1999 a 18 de Abril de 1999
Lisboa
Exposição comissariada por João Miguel Fernandes e Maria Helena de Freitas e programada por Jorge Molder e Rui Sanches.
Atualização em 23 janeiro 2015

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