A estadia de Ângelo de Sousa em Londres, durante 1967-1968, onde a presença da arte minimal se fizera sentir nestes mesmos anos, coincide com a época em que o artista abandona a pintura, que virá a retomar a partir de 1972. Esta interrupção na produção pictórica significou um abandono da pintura de referente naturalista e a adoção de uma outra conceção da realidade, a par da cena artística internacional. Ou seja, as alusões à figura que anteriormente se destacavam nos seus trabalhos desaparecem, afirmando a década de 70 uma ruptura na obra de Ângelo de Sousa.
Nesta pintura, precisamente de 1974-1975, surge uma ténue linha que desenha uma porta delimitando levemente a superfície pictórica, que através da sobreposição intensa de camadas causa um efeito luminoso, de profundidade e volumetria. O resultado conseguido através da pincelada em desiguais direções, num gesto conjunto entre o movimento rápido e a precisão, é construído através de nuances cromáticas, levando o artista a definir que a sua pintura é «o máximo de efeito com o mínimo de recursos», ou seja, a máxima expressão sem expressionismos.
A produção de séries e variações nas séries é constante na obra de Ângelo, e o mesmo acontece com a produção de pinturas totalmente preenchidas, com sobreposição de camadas cromáticas, numa superfície lisa e plana onde surgem linhas geométricas, que variam de pintura para pintura, ora se cruzando, ora demarcando levemente o espaço pictórico.
Patrícia Rosas
Junho de 2012