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Júlio Pomar

Peixeira

Se pela temática ainda podemos considerar esta obra como pertencente ao período neo-realista de Júlio Pomar, ainda que da fase final deste, o apuramento formal a que se dedica como exercício parece tomar o tema sobretudo como pretexto.

 

Jogando com volumetrias, jogos de luz, eixos verticais e diagonais, Pomar cria uma gravura de grande depuração formal e, por isso mesmo, de grande apelo estético. Em primeiro plano, é representado o corpo da peixeira, descalça e debruçada a amanhar um peixe. O volume branco das suas pernas e tronco é interrompido — e assim enfatizado — pela mancha negra que figura o seu avental e lenço de cabeça, que rimam também pelos seus eixos eminentemente verticais.

 

Num segundo plano, não muito distinto ou distante do primeiro (como se as volumetrias brincassem com a bidimensionalidade), o fundo resolve-se em três listas verticais: à esquerda, uma mancha negra; ao centro, volumes paralelepipédicos empilhados (talvez referentes a caixotes de peixe), de um branco e cinza em contraste com os negros adjacentes e rimando com as manchas de branco do corpo da peixeira, criam ritmo, jogando com o estatismo da mulher e com esta marcando o centro da composição; e, à direita uma lista de fundo indistinto de uma gradação de cinzas. Restou ainda espaço para uma pequena nota de humor: a forma do lenço negro que cobre a cabeça da mulher parece mimetizar a forma do peixe sobre o qual se inclina.

 

Temas de trabalho ligados ao mar são recorrentes na obra de Pomar — como o provam outras gravuras também pertencentes à colecção do CAM, como sejam Camaroeira, Mulher do Mar ou Pescador, ou telas como Mulheres na lota (1951) e Lota (1958) —, mas as mudanças na sua linguagem plástica anunciam um percurso de incessante experimentação. Efectivamente, em 1957, data de execução desta gravura, pinta Maria da Fonte e Cegos de Madrid (pertencente à colecção do CAM), obras consideradas como um ponto de viragem no percurso de Pomar.* Nelas, um gestualismo e um informalismo começam a ocupar o lugar de um lirismo mais descritivo. 

 

* Júlio Pomar e a experiência neo-realista, Vila Franca de Xira: Câmara Municipal de Vila Fraca de Xira, Museu do Neo-realismo, 2008, p. 184; Alexandre Pomar, “Júlio Pomar” in Júlio Pomar. Catálogo ‘Raisonné’ I. Pinturas, Ferros e ‘Assemblages’. 1942-1968, Paris, La Différence, 2001-2004, p. 20

 

 

 

Luísa Cardoso

Fevereiro 2015

TipoValorUnidadesParte
Altura34,7cmpapel
Altura27,1cmmancha
Largura25cmpapel
Largura20,4cmmancha
TipoA definir
DataA definir
Atualização em 23 janeiro 2015

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