Subordinadas ao tema da paisagem, as gravuras com o número de inventário GP8, GP13, GP33, GP42, GP66 e GP1055 foram as primeiras gravuras de João Hogan impressas e comercializadas, entre 1957 e 1960, pela Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses. Executadas na técnica da xilogravura, um processo de gravação em relevo que utiliza a madeira como matriz, estas gravuras de João Hogan a preto e branco por vezes apresentam pequenos apontamentos de cor (GP8, GP13 e GP42). O negro, que preenche densas manchas nas composições, é obtido através da tintagem da matriz; o branco, ao invés, não recebe aplicação de tinta, restringindo-se à coloração do papel. Assim, o negro corresponde à matriz pura, não trabalhada; o branco corresponde às áreas sulcadas pelas goivas que escavam a matriz. Explorando as especificidades da técnica, o artista assume a natureza da matriz, incorporando os veios da madeira na própria composição, permitindo que na impressão das provas estes sejam visíveis.

 

De influência expressionista, estas xilogravuras adensam-se numa sobreposição de planos, num constante jogo de contraste claro-escuro. Construindo paisagens desertas, com a introdução de elementos arquitetónicos (casas e pontes), Hogan desenvolve um conjunto de volumes simplificados mas de grande robustez. A articulação desses volumes é obtida através de aberturas pontuais a branco que criam, a partir de um jogo de subtilezas, ritmos nas composições. Chuva, a última destas obras, destaca-se das outras pela presença dominante de duas silhuetas humanas que se fundam com a paisagem, numa composição simplificada cuja tensão advém dos contornos semicirculares das guarda-chuvas.

Hogan trabalha paisagens imersas na penumbra e numa solidão circundante, valorizando ambientes noturnos e criando cenários com uma carga dramática muito forte.

 

 

IG

 

Outubro de 2011