- 1950
- Papel
- Guache
- Inv. DP441
Fernando de Azevedo
Ocultação
As ocultações, processo de trabalho cuja origem se encontra, provavelmente, nas overpaintings de Max Ernst, marcam de forma singular a história do surrealismo. Para Fernando de Azevedo, como para outros artistas em Portugal nos anos 40, tiveram importância na passagem à não-figuração e na assunção do acaso e do inconsciente. O processo permitia a descoberta e a emergência do desconhecido em cada um, “porque por detrás do exercício, está o ser humano”*.
A ocultação surge no desenho de Azevedo em 1948, ainda antes de ser utilizada sobre fotografia. As duas ocultações que mostrou na exposição do Grupo Surrealista, em 1949, estão hoje perdidas.
Em 1952, na exposição realizada na Casa Jalco, Azevedo apresentou dezanove ocultações (para além de pintura, desenho, colagem e um manequim). Personagens Preciosas (1950/51), ali exposto, é um trabalho considerado fundamental no seu percurso, justamente por remeter para o processo da “ocultação”, apesar de se tratar de uma pintura a óleo.
Tal como a colagem e muita da pintura que realizou, as ocultações são a negação do princípio figura-fundo. A tinta-da-china é espalhada sobre imagens impressas arrancadas a páginas de revista ou, menos frequentemente, sobre desenhos do próprio artista, definindo formas a partir das zonas não cobertas, em composições expostas ao risco da irreversibilidade.
As ocultações de Azevedo são dinâmicas e delicadas, fluidas e complexas… Nelas coexistem o grotesco e o poético, o motivo vegetal ou vagamente animal e a força geométrica, plasticidade orgânica e mecânica. Aquelas que realiza a partir de folhas impressas são mais favoráveis a essa condição cinética, a uma sensação de iminência constante, de desvendamento e recusa, de epifania. A luz que nelas se projecta pela fabricação de um claro-escuro transitivo ou contrastante, e pelo tratamento do seu volume escultórico, atribuem às formas uma plasticidade perturbadora, maleável, ameaçada.
O lado fantasmático das figuras – pontiagudas, bojudas, filamentosas, esponjosas, estriadas, lapidadas, matizadas – permanece nos desenhos que Azevedo também oculta, mas nesse caso uma relativa rigidez trazida pelos riscos subjacentes confere-lhes mais peso, maior fixação e, por vezes, uma certa aspereza. Nos desenhos presentes na coleção do CAM, alguma figuração sobrevive ainda à abstração e o espaço é articulado de forma mais arquitetónica. O que se oculta e se adivinha nestas imagens poderia ser o exato simétrico do que se mostra e descobre, não fora a respetiva diferença de potencial – a imagem recortada é necessariamente uma eleição da forma na obra ao negro iniciada e sucede-lhe como conquista, apesar da aparente fragilidade da sua fixação.
Leonor Nazaré
Março de 2013
* Fernando de Azevedo citado por Isabel Coutinho Cabral, em “Fernando de Azevedo: da ocultação à pintura, da pintura à colagem”, em Colóquio-Artes, n.º 66, setembro de 1985
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Altura | 22,5 | cm | |
Largura | 29,4 | cm |
Tipo | assinatura |
Texto | F. Azevedo |
Posição | c.i.d. |
Tipo | Aquisição |
Data | Maio de 1985 |
Fernando Lemos e o Surrealismo |
Sintra Museu de Arte Moderna |
Curadoria: Sintra Museu de Arte Moderna |
20 de Novembro de 2005 a 2 de Maio de 2006 Sintra Museu de Arte Moderna |
Exposição que apresenta fotografias de Fernando Lemos e um núcleo de obras surrealistas nacionais e internacionais. |
Fernando Lemos e o Surrealismo |
Centro das Artes Casa das Mudas |
Curadoria: Centro das Artes Casa das Mudas |
8 de Julho de 2006 a 8 de Janeiro de 2007 Centro das Artes Casa das Mudas, Madeira |
A exposição "Fernando Lemos e o Surrealismo" esteve antes no Sintra Museu de Arte Moderna. |
Surrealismo em Portugal 1934-1952 |
Gabinete das Relações Culturais Internacionais |
Curadoria: Gabinete das Relações Culturais Internacionais |
9 de Janeiro de 2002 a 3 de Fevereiro de 2002 Circulo de Bellas Artes, Madrid |
Exposição composta por 120 obras de arte plástica - pintura, desenho, escultura, instalações e 70 livros que testemunham o movimento artístico e literário surrealista em Portugal, enquadrando-o numa interpretação histórica e evocando a atmosfera política, social e artística da época. Entre os autores representados, figuram, designadamente, Mário Cesariny, Cruzeiro Seixas, Alexandre O'Neil, António Dacosta, Cândido Costa Pinto, Vespeira, Jorge Vieira, António Pedro, Fernando de Azevedo, José-Augusto França e Mário Henrique Leiria. |
Surrealismo em Portugal 1934-1952 |
Museu do Chiado |
Curadoria: Museu do Chiado |
Outubro de 2001 a Dezembro de 2001 Fundação Cupertino de Miranda |
2001 a 2001 MEIAC, Badajoz |
Exposição apresentada pela Fundação Cupertino de Miranda em colaboração com o Museu do Chiado, na dita fundação e no Museo Extremeno i Iberoamericano de Arte Contemporaneo (MEIAC), em Badajoz. |