- Papel
- Grafite
- Inv. DP753
Mário Eloy
O Knock do Teatro Novo
Este desenho representa Joaquim de Oliveira interpretando o papel do doutor Knock, em Knock ou a Vitória da Medicina, de Jules Romains. Criada por Louis Jouvet em 1923, no teatro La Comédie (Campos Elíseos, Paris), a peça estreava-se em Lisboa em Julho de 1925, pelas mãos de António Ferro, que confiou a sua encenação e o papel principal a Joaquim de Oliveira, actor do Teatro Nacional. Mário Eloy contava-se entre as trezentas pessoas presentes na ante-estreia da peça com que António Ferro inaugurava o Teatro Novo, no palácio Tivoli. Nas memórias e ensaios que publicou em 1950, Joaquim de Oliveira recordava a gestação deste projecto de modernização do teatro, a discussão e as polémicas veiculadas pela imprensa da época e o discurso inaugural do seu mentor, no dia da ante-estreia. Knock foi um sucesso retumbante, ao ponto de fazer esquecer o calor abafador que reinava na sala descrita por Gustavo Matos de Sequeira, “toda guarnecida de panos caídos, cor de laranja, decorados com ornatos indeterminados […]. Dir-se-ia um cofre de jóias, colgado de acolchoado. […] Se não fosse o cadeirado da plateia, ignorar-se-ia de que lado era o palco.” O longo discurso de António Ferro que precedeu a peça seria, em contrapartida, unanimemente criticado pelos colunistas lisboetas: “As ideias nunca podem ser casos pessoais. […] O seu discurso, em vez de ser, unicamente, altivamente, uma estrita defesa dos modernos processos artísticos […], foi uma cerrada e preocupada crítica àqueles que o atacaram.” (Artur Portela, Diário de Lisboa). Talvez se deva ler a dedicatória do desenho de Mário Eloy – “Ao António Ferro./ O Knock do Teatro Novo” – à luz deste discurso do poder, que não admite críticas, e que foi proferido perante uma plateia “cobarde” que o deixou acabar o seu “exórdio irreverente” “sem protestar de viva voz” (Mário Duarte, De Teatro, n° 33). A peça de Jules Romains reenvia-nos para um universo em que o homem providencial (encarnado pelo doutor Knock) adquire, em nome da medicina moderna, o poder inquietante de um ditador.
Oito anos depois do triunfo de Knock em Lisboa, António Ferro fundava o Secretariado da Propaganda Nacional do Estado Novo e implementava a sua Política do Espírito, em nome da cultura moderna. A propósito de um outro desenho em que Mário Eloy o retratara, em 1925, escreveu, anos mais tarde, numa carta enviada a Jorge Segurado: “o meu retrato a lápis do Eloy que considero um documento psicológico […] ajudou a conhecer-me.”
Isabel Cardoso
Março 2014
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Altura | 34 | cm | |
Largura | 23 | cm |
Tipo | assinatura e data |
Texto | Mário Eloy 925 |
Posição | Canto inferior direito. |
Tipo | dedicatória |
Texto | Ao Antonio Ferro./ O Knock do Teatro Novo. |
Posição | Canto inferior direito sobre a assinatura. |
Tipo | Aquisição |
Data | Julho de 1983 |
Tipo | Marca de água |
Texto | Almaço P. CAV ºs |
Mario Eloy. Exposição retrospectiva |
12 de Julho a 29 de Setembro de 1996 Lisboa, Museu do Chiado |
Museu do Chiado, 1996 |