- 1939
- Cartão
- Óleo
- Inv. 80P92
Carlos Botelho
Nova York, Rua 53
Em 1939, realizou-se a Exposição Internacional de Nova Iorque. Carlos Botelho, pintor e decorador dos pavilhões que representam Portugal em inúmeras feiras internacionais, também esteve presente. Para além do trabalho que ali o leva, visita a cidade. Assiste à comemoração dos dez anos de actividade do MoMA. Porém, de tudo o que vê, o que mais fascinará Botelho é a própria malha citadina. Com efeito, entre 1930 e 1941, o tema preferencial do artista é a paisagem urbana. É nesses anos – que coincidem com a fase em que o pintor mais viaja, e de que surgem resultados eloquentes nas páginas do suplemento «Ecos da Semana»– que ele se dedica também à invenção de múltiplas faces de Lisboa. Em 1939, quando Nova Iorque entra na rota do pintor, a cidade parece erguer-se como o contraponto urbano e pictórico da Lisboa que reinventa. Das linhas horizontais desta, Botelho parte para a verticalidade da paisagem da urbe norte-americana. E, em vez das tomadas de vista do alto de colinas, que oferecem uma perspectiva mais distante, o pintor, na cidade plana, cria esta composição numa proximidade de olhar que torna o resultado mais cheio, dotado de um particular dinamismo. É certo que, em alguns desenhos de Nova Iorque, encontramos vistas tomadas de longe; porém, o que nos é dado a ver nesta tela é algo de bem diferente.
Retratando Nova Iorque como uma cidade de contrastes, que conhece percorrendo-a com atenção ao pormenor (veja-se a página dos «Ecos da Semana», de 11 de Maio de 1939, em que revela, entre outros assuntos, a estrutura interna da Estátua da Liberdade), apanha-lhe o rosto complexo e eminentemente gráfico (outros trabalhos mostram-na na azáfama de néones, cartazes e edifícios, reduzindo as presenças humanas aos movimentos ritmados da dança nos clubes de Harlem ou nos bailes do Savoy). Céus densos, cenário fechado, sem horizonte para lá dos edifícios que se sucedem em planos na composição, a marcação da urbanidade nova-iorquina guarda espaço para um tempo duplo: célere (feito através da inclinação do corpo do passante que se vê ao longe) e lento – até aberto ao do ócio (evocado na figura da jovem que passeia o cão). A assunção cenográfica da cidade também é patente na marcação que o pintor faz da presença do automóvel, seguramente então já muito mais numeroso do que em Lisboa, e aqui reduzida a uma presença escassa, denotando também o caminho de esvaziamento de presenças humanas que se tornará comum nas paisagens de Lisboa dos anos 40.
Neste registo da rua 53, a do MoMA, Botelho capta uma Nova Iorque de sucessivas camadas, que a vista apenas descobre em momentos de demolição de alguns edifícios, registo de uma urbe que eternamente se refaz, fazendo coabitar o passado com o presente e o futuro. A clara verticalidade da composição, prepara já futuras obras que assim também serão estruturadas pelo desenho, antes da cor, como sempre acontece em Botelho. E, dado o carácter geométrico da cidade riscada a régua, também aqui encontramos as linhas do desenho, um traçado rápido que conduz a cor ao seu lugar.
Emília Ferreira
Maio de 2010
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Largura | 33 | cm | |
Altura | 41 | cm |
Tipo | assinatura |
Texto | Botelho |
Tipo | assinatura |
Texto | Botelho |
Posição | Verso, centro |
Tipo | título |
Texto | Rua 53 New York |
Posição | Verso, centro |
Tipo | data |
Texto | 1939 |
Posição | Verso, centro |
Tipo | Aquisição |
Data | Junho de 1980 |
Centro de Arte Moderna/ Fundação Calouste Gulbenkian |
Lisboa, FCG/ CAM, 20 de Julho de 1983 |
Catálogo de exposição |
Carlos Botelho |
Lisboa, Galeria 111, Abril de 1979 |
Catálogo de exposição |
Arte Contemporáneo Portugués |
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, Centro de Arte Moderna, 1987 |
Catálogo de exposição |
Heimo Zobernig e a Colecção do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian/ Heimo Zobernig and the Collection of the Calouste Gulbenkian Foundation Modern Art Centre; Heimo Zobernig and the Tate Colllection/ Heimo Zobernig e a Colecção da Tate |
Lisboa/ St. Ives, 2009 |
ISBN:978-1-85437-826-2 |
Catálogo de exposição |
Inauguração do CAM |
CAM/FCG |
Curadoria: A definir |
20 de Julho de 1983 Lisboa, Centro de Arte Moderna/ FCG |
20 de Julho 1983. |
Arte Contemporáneo Portugués |
Fundação Calouste Gulbenkian |
Curadoria: CAM/FCG |
Fevereiro de 1987 a Março de 1987 Madrid, Museo Espanõl de Arte Contemporáneo |
Exposição organizada pelo CAM e pelos ministérios dos "Asuntos Exteriores" e da Cultura de Espanha. A exposição apresentou obras da Colecção do Centro de Arte Moderna e de colecções particulares. |
Carlos Botelho |
Galeria 111 |
Curadoria: Galeria 111 |
Abril de 1979 a ? de 1979 Lisboa, Galeria 111 |
Lisboa, Abril de 1979. |
Heimo Zobernig e a Colecção do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian |
CAM/FCG |
Curadoria: Jürgen Bock |
11 de Fevereiro de 2009 a 31 de Agosto Centro de Arte Moderna |
Exposição realizada em parceria com a Tate St. Ives. Inclui obras da colecção da Tate de St. Ives, do Centro de Arte Moderna e do artista Heimo Zobernig. De 24 de Maio a 31 de Agosto de 2009 estiveram expostas apenas as obras do CAM escolhidas pelo artista. |