• 1984
  • Tela
  • Tinta acrílica
  • Inv. 86P698

Eduardo Batarda

Néctar

A partir dos anos 80, Eduardo Batarda abandona as aguarelas e regressa ao acrílico. Abandona também as referências figurativas explícitas e as inscrições (surgindo muito pontualmente uma ou outra, por vezes apenas uma sílaba ou letra). A obra Néctar foi adquirida na sequência de uma menção honrosa na III Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian (1986). Ao contrário das outras pinturas feitas desde o regresso ao acrílico, todas elas improvisadas em múltiplas camadas de tinta, esta partiu de um desenho preparatório. No resto utiliza o mesmo processo de construção em palimpsesto, que consiste numa primeira fase em que são utilizadas várias cores (e possivelmente alguma figuração), depois cobertas com branco semitransparente. Sobre este são aplicados os tons escuros, negros, cinzentos ou castanhos (em algumas pinturas posteriores foram usados azuis e verdes), que, no jogo de ocultação/revelação das camadas de baixo, desenham riscas verticais, horizontais e elípticas. No canto inferior esquerdo desta obra, essas formas tornam-se dispositivos óticos para camuflar a grade fora de esquadria. Finalmente, uma camada de verniz sela a superfície pictórica.

Continua a haver o apelo, agora velado, de aproximação e afastamento para observar o quadro, uma vez que é ao perto que se entreveem as cores empalidecidas das primeiras camadas, fantasmas da pintura original. Néctar é um exemplo do exercício de arqueologia da pintura que Eduardo Barata levou a cabo sistematicamente a partir dos anos 80, em que comenta uma pintura moribunda ou morta, sendo cada um desses exercícios a prova irónica de que na verdade está ainda viva. O vórtice que se vê na primeira leitura, portanto na última camada, lembra sim a ideia de abismo ou afundamento (algo que já se encontrava nas aguarelas), mas evoca também jogos óticos e dispositivos de visão (canudo, telescópio, óculo, funil ou buraco para espreitar). Como se a própria pintura, simultaneamente objeto e sujeito da visão, fosse o instrumento para se ver a si mesma como fenómeno do passado, assim se afirmando no presente.

 

 

Mariana Pinto dos Santos
Maio de 2010

TipoValorUnidadesParte
Altura200cm
Largura161cm
Tipo data
Tipo assinatura
TipoAquisição
Data4 Novembro 1986
III Exposição de Artes Plásticas
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian - Centro de Arte Moderna, 1986
Catálogo de exposição
Portuguese Paintings from the Last 3 Decades
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1988
Catálogo de exposição
Arte Contemporáneo Portugués
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, Centro de Arte Moderna, 1987
Catálogo de exposição
Eduardo Batarda
Lisboa, Galeria 111, 1985
Catálogo de exposição
III Exposição de Artes Plásticas
CAM/FCG
Curadoria: CAM/FCG
20 de Julho de 1986 a 31 de Agosto de 1986
Galeria de Exposições Temporárias da sede Piso 0 e Hall dos Congressos
Exposição de comemoração do 30.º aniversário da FCG
Arte Contemporáneo Portugués
Fundação Calouste Gulbenkian
Curadoria: CAM/FCG
Fevereiro de 1987 a Março de 1987
Madrid, Museo Espanõl de Arte Contemporáneo
Exposição organizada pelo CAM e pelos ministérios dos "Asuntos Exteriores" e da Cultura de Espanha. A exposição apresentou obras da Colecção do Centro de Arte Moderna e de colecções particulares.
Portuguese Paintings from the last 3 decades
Fundação Calouste Gulbenkian
Curadoria: José Sommer Ribeiro
Dezembro de 1988 a Dezembro de 1988
Pinacoteca Museum, Atenas
Exposição comissariada por Sommer Ribeiro e Maria José Moniz Pereira.
Eduardo Batarda - Decorações
Galeria 111
Curadoria: Galeria 111
1985-02-01 a 1985-02-28
Galeria 111, Lisboa
Atualização em 02 maio 2023

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