O título deste vídeo remete, por um lado, para o local onde a ação foi filmada, a Sociedade Filarmónica Alunos de Apolo em Lisboa, fundada em 1872, e em que as pessoas se encontram para praticarem danças de salão, aliás, elas são uma boa parte das personagens que vemos na obra; e por outro lado, evoca o deus Apolo da mitologia grega que apoiou as mulheres de Troia contra os gregos.

O monólogo do vídeo, construído por Vasco Araújo a partir de vários textos, tem passagens retiradas da peça de Eurípides, As Troianas (415 a.C.), que precisamente relatam a coragem, a resistência e a inteligência das mulheres de Troia frente ao massacre perpetrado pelos gregos. Estas palavras são colocadas na boca de uma mulher de meia-idade que procura um escape à solidão e aos maus tratos do marido num salão de baile, e vestida de um modo pretensamente «glamouroso». Esta mulher é-nos dada através da voz – da atriz Lúcia Sigalho – e de planos parciais de um corpo; só no final do vídeo nos é revelado o rosto, bem como todo o corpo, e percebemos então que é o próprio Vasco Araújo numa interpretação exímia – a mulher é, afinal, ele. A auto-representação e o encarnar de papéis femininos são características que o artista explora desde o início da sua carreira, bem como a dimensão teatral e operática a que aqui se junta a herança do filme musical.

Atravessado por uma dimensão heroica e simultaneamente trágico-cómica, Mulheres D’Apolo é uma espécie de drama /comédia musical e instala uma profunda tristeza: um lugar aparentemente propício ao romance e ao glamour é afinal um lugar de encontros fugazes, esporádicos, que se afundam em solidão e desespero por mais que estes corpos bailem envoltos em vestimentas vaporosas.

Isabel Carlos

Março de 2013

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FICHA TÈCNICA

Atores: Albina Bileu, Ana Maria Alves, Fernanda Gama Vieira, Maria Adelaide da Horta, Maria Armanda de Almeida, Vasco Araújo

Voz: Lúcia Sigalho

Texto: Vasco Araújo