Mr. and Mrs. Patrick Caulfield pertence à série de pinturas sobre casais do meio artístico londrino que Hodgkin frequentava na década de 60, no caso, o pintor Patrick Caulfield e a sua mulher. Nestas pinturas, Hodgkin procurava convocar um momento suspenso da acção, concentrando-se na evocação da atmosfera do encontro, deste modo provocando o observador a dialogar com o espaço representado (frequentemente um espaço fechado). O observador toma então como ponto de partida as coordenadas figurativas que o pintor mistura com elementos abstractos, inspirados na pintura hard-edge e post-painterly norte-americana. A faixa hard-edge branca, contornada a vermelho, corta na vertical a composição, detendo-se no rebordo de um sofá laranja, representado em primeiro plano (uma citação claramente voyeurística). O espaço interior da sala de estar divide-se entre o lado direito da imagem, ocupado pelo casal Caulfield, e o lado esquerdo, com uma composição de planos de cor justapostos que se abre para uma paisagem estilizada sugestiva de um pôr-do-sol.
As figuras quase silhueta de Patrick e da senhora Caulfield (sem nome, sem rosto) estão ainda separadas por nova faixa hard-edge, vermelha contornada à sua complementar roxa, entre Patrick, que se imobiliza voyeuristicamente na passagem para uma espécie de montra iluminada onde se encontra a sua mulher. Esta espessa linha de contorno, surge a preto na delineação de várias áreas planas de colorido uniforme, numa evidente citação à pintura de Caulfield que a utilizou abundantemente no contorno das suas figuras (por sua vez, numa evidente citação das pinturas de Fernand Léger e Stuart Davis, e à linguagem publicitária e da banda desenhada).
Para Hodgkin estas pinturas deveriam, idealmente, ser comparáveis a ‘memoriais’; deveriam ser, em termos físicos e tanto quanto possível, um objecto finito, sólido, que não contivesse nada de irrelevante ou confuso.
Ana Vasconcelos
Março de 2013