• 1969
  • Platex
  • Têmpera
  • Inv. 83P525

Joaquim Rodrigo

Madrid – Vallauris

Madrid – Vallauris é uma obra de grande formato, têmpera sobre platex, que Joaquim Rodrigo realizou nos finais dos anos de 1960. Sinais, formas concretas reduzidas à sua mais esquemática conceção, figuras humanas, todos mais ou menos nivelados por uma escala miniatural, aparecem dispersos e isolados no plano de fundo uniforme de tom térreo aveludado que simboliza o elemento que o artista sempre amou e valorizou, a terra. A harmonia tonal predomina: brancos de cré, ocres, castanhos-claros e escuros, pretos, são as cores preferenciais desta como doutras numerosas obras que Joaquim Rodrigo criou por esta época: consciente de si como homem enraizado no território, engenheiro agrónomo e paisagista que nunca deixou de ser.

 

O quadro reflete assim não só a importância dos espaços geográficos percorridos ou visitados, memorizados, neste caso, partindo dos apontamentos da viagem que o pintor realizara em 1968 por Espanha e Sul de França, sempre intermediados por uma poesia da terra – “Poética da vontade”, segundo Gaston Bachelard –, que a partir dos anos de 1960 precisamente se tornou uma espécie de imagem de marca da obra de Joaquim Rodrigo. O trajeto de Madrid, capital espanhola, até Vallauris, povoação do sul de França, na Côte d’Azur, não era decerto fortuito: fora em Vallauris que o mestre de arte moderna Pablo Picasso se estabelecera, entre 1948 e 1955, aí desenvolvendo uma importante produção em torno da cerâmica e da escultura. Ora, Joaquim Rodrigo decerto não ignorava a importância dessa estadia picassiana na estância balnear francesa para a renovação da cerâmica, arte igualmente telúrica tão afim da sua própria conceção da pintura, pelo barro, matéria-prima ou pigmento.

 

Em Madrid – Vallauris, a ideia de transporte ou travessia, reforçada pela barra preta que divide o espaço do quadro numa diagonal ascendente da esquerda para a direita, é igualmente sugerida por outros elementos ideogramáticos e inscrições – por exemplo, a referência a Medinaceli, vila dos «Touros de Fogo», estância temporária, de meio caminho, duplamente assinalada pela inscrição num pequeno círculo branco, dístico com inscrição em terra vermelha colocado logo acima e na proximidade da diagonal preta, completando com a presença de um minúsculo animal, no plano oposto, a referência a essa localidade espanhola. Na vizinhança destes, outros signos acusam a comparência de formas observadas (grades, alcachofras, palmeira…), figuras humanas (cabeça, vultos de frente ou perfil), ou detalhes de orografias, completando um léxico cartográfico sem perspetiva e sem centro definido que Joaquim Rodrigo reformularia incessantemente até à morte em 1997, na sua procura diligente de regressar a uma arte de princípios básicos, uma arte «elementar ou de primeiro grau», como lhe chamaria.

 

Mostrada pela primeira vez em 1969, na Exposição de Artes Plásticas do Banco Português do Atlântico, Madrid – Vallauris constitui um belo exemplar das conceções da arte que Joaquim Rodrigo iria teorizar, alguns anos mais tarde, em O Complementarismo em Pintura (1982).

 

Ana Filipa Candeias

 

Maio de 2013

 

TipoValorUnidadesParte
Altura149cm
Largura200cm
TipoAquisição
DataJulho 1983
Atualização em 23 janeiro 2015

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