Amadeo de Souza-Cardoso

Lévriers / Os Galgos
c. 1911 (data atribuída)

Galeria


Informação técnica

Autor(es)
Amadeo de Souza-Cardoso (Manhufe, Portugal, 1887 – Espinho, Portugal, 1918)
Título
Lévriers / Os Galgos
Data
c. 1911 (data atribuída)
Materiais e meios
Tela; Óleo
Técnica
Óleo sobre tela
Dimensões
Altura 100,00 cm; Largura 73,00 cm
N.º de inventário
77P1

Incorporação

Tipo
Aquisição
Proveniência
Lucie de Souza Cardoso
Data
31 ago 1977

Texto

Os Galgos está entre as primeiras telas exibidas por Amadeo, no 27º Salon des Indépendants em Paris (1911).* Esse ano marca uma intensa abertura para a pintura na obra de Amadeo, em composições formalmente idênticas, e sobretudo dedicadas à temática da caça, consolidando a sua mitologia pessoal e procurando afirmar a identidade autoral. Definem-se pela simplificação gráfica no desenho, então desenvolvido em forte cumplicidade com o amigo Modigliani,** nas figuras estilizadas de formas alongadas, que transpõe para estes inventados cenários exóticos, nos quais explora as exuberâncias materiais da pintura, pincelando com vigor os campos de cores lisas, mas vibrantes e luminosas, muito contrastantes, exaltando o decorativismo do conjunto, de modo reminiscente do simbolismo ou arte nova. A coesão temática e estilística gera vários paralelismos, por exemplo, em Saut du Lapin (Art Institute of Chicago), cujo coelho é decalcado dos dois n’Os Galgos, ornamentados todos a partir da estampa japonesa então em voga; outro desenho dos XX Dessins, ilustra estes mesmos coelhos a serem perseguidos por um galgo branco e outro galgo preto.

Contra os montes do fundo e o sol nascente, que anuncia a chegada duma madrugada de caça, perfilam-se dois galgos, um branco e um preto, expectantes, sobrepondo-se a tudo, enquanto que os dois coelhos, suspensos no salto, fogem a estes dominantes predadores que espiam do primeiro plano, antecipando a ação prestes a eclodir, ou sugerindo múltiplas temporalidades, em solução futurista, criando uma tensão única entre as caçadas de Amadeo, nas quais, habitualmente, nenhum animal é estático. Conhecem-se dois desenhos preparatórios desta obra: um da efígie dos galgos, e outro desta composição, mas em formato horizontal, contendo já o ritmo criado pela duplicação de cada um dos animais e das formas. Optando pela verticalidade da tela, Amadeo explora assim meios pictóricos para sintetizar a narrativa, criando um enquadramento inabitual que nos aproxima da cena ao ponto de amputar parte do corpo dos galgos (como se, na posição de caçadores, também eles olhassem o quadro de fora, estudando as suas presas, e como se os coelhos estivessem a saltar para fora dos seus limites), além de manipular também a escala, distorcendo as linhas que definem os vários planos, curvando-as como ao sol por detrás, colocando o próprio cenário em movimento.

Exames recentes revelaram existirem também duas pinturas sob a camada final d’Os Galgos, representando uma mulher e uma cena pastoral com cavalos.***

 

 

Afonso Ramos

Julho de 2013

 

 

* A exposição ficou marcada pelo escândalo cubista. Na Sala 16, “où se trouvent les envois de Cardoso”, como anota Apollinaire, o pintor português expôs seis obras da sua autoria.

** Segundo Diogo de Macedo, Modigliani entusiasmou-se ao observar estas pinturas de Amadeo no Salon, e exclamou: “Voilà! Voilà! C’est presque bien… Il ne lui manque plus qu’un peu de courage pour emmerder ces barbouilleurs!” (14, cité Falguière, Lisboa: Seara Nova, 1930)«

*** O resultado destes exames deu lugar a uma exposição no CAM em 2004, Os Galgos de Amadeo de Souza-Cardoso – Olhar a história de uma pintura.

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