Muitas vezes designado como land artist, Andy Goldsworthy produz trabalhos que resultam de uma relação direta com a natureza, concretizados a partir de matérias naturais recolhidas no próprio lugar em que intervém. Servindo de base a um sistema de reconfiguração e transformação, pedras, folhas, flores, ramos, pinhas, neve, terra, lama, ou areia, são alguns dos materiais com que o artista tem vindo a trabalhar de forma continuada. As suas composições não procuram contudo alterar a paisagem em que se inscrevem, dado que se constituem como operações efémeras, formalizadas numa primeira fase pelo artista, mas posteriormente, num processo de erosão, completadas pela ação da natureza. Tal como os elementos naturais que caracterizam o local de intervenção, ou as próprias condições atmosféricas em que essa ocorre, o decurso do tempo é assim entendido como um vetor essencial para a produção da obra – que na verdade apenas é inteiramente realizada quando desaparece, quando a ação do artista é apagada, deixando a paisagem inalterada.

 

Neste contexto, a fotografia surge não apenas como documento que preserva a intervenção artística, mas testemunha também o desempenho da própria natureza – tornando-se assim necessário que a obra seja registada em diferentes momentos. É essa importância de dar a conhecer a obra através de um desdobramento temporal – de dar a compreender a sua evolução – que podemos observar, nos dois elementos que compõem Leaves Laid in River Pools, Scaur Water, um conjunto de fotografias que documenta uma ação de Andy Goldsworthy realizada a 3 de Novembro de 1993 em Dumfriesshire, na Escócia, junto ao rio Scaur Water, e que consistiu na colocação de grupos de folhas da mesma cor sobre as poças de água naturais que definem a margem desse rio.

 

Neste sentido, enquanto o primeiro elemento corresponde a uma fotografia isolada que fixa o momento mais intenso, em que acaba o desempenho do artista e começa o da natureza, o segundo elemento é composto por duas fotografias. A primeira foi registada um dia depois, deixando em aberto se houve uma nova intervenção por parte do artista durante esse regresso; a segunda, cujo momento de registo não é identificado, revela completando um ciclo natural, o mesmo local já sem qualquer vestígio da operação que ali teve lugar.

 

 

MBA

 

Outubro de 2011