- 1971
- Tela
- Tinta acrílica
- Inv. 83P772
Júlio Pomar
Le Bain Turc, d’aprés Ingres
Esta obra de Júlio Pomar é uma das várias pinturas feitas a partir do quadro de Ingres, Le Bain Turc (1862), série que o pintor português inicia em 1968 e, intercalando com outras temáticas, prolonga até 1973. Já anteriormente, Pomar pintara explicitamente sobre a obra de outros artistas (Goya e Uccello) e o seu trabalho em torno de Ingres coincide temporalmente com comentários pictóricos a van Eyck, Courbet e, pouco depois, Chardin. O trabalho destes anos revela também a exploração das potencialidades do acrílico, que vários pintores passam a usar a partir de meados dos anos 60, e que lhe permite justapor cores intensas em bloco, opacas, eliminando gradações e transparências. A linguagem do acrílico confere, pois, uma assertividade gráfica às obras deste período, que contrasta com o estilhaçamento dos temas em pinceladas livres em obras imediatamente anteriores e novamente presentes em alguma pintura posterior.
Na série Le Bain Turc (O Banho Turco), Pomar apropria-se de alguns elementos da obra de Ingres, variando a escolha em cada tela deste conjunto, conferindo- lhes ou retirando-lhes importância formal e erótica. No quadro presente na colecção do CAM, de formato rectangular (inicialmente a tela de Ingres era também rectangular, só depois foi modificada e cortada pelo pintor francês na forma circular), mal se reconhecem os motivos ingrescos que surgem espalhados, dissociados, modificados e deslocados em relação à posição no original. São, aliás, estilizados ao ponto de apenas restar uma enunciação dos que Ingres pintou. As figuras femininas foram colocadas em negativo: estão imersas no azul e são vagamente referenciadas pelo contraste com os outros elementos que correspondem a sumários dos corpos inanimados, isto é, dos elementos arquitectónicos, do instrumento musical, das mantas, dos turbantes, dos objectos (e que assumem, por vezes, forma fálica). A amálgama de corpos de Ingres, que impede o olhar de se fixar num ponto específico, é aqui quase totalmente uniformizada, domesticada, numa cor única. Sobressai, no entanto, o púbis e o umbigo a negro de uma figura deitada, cuja pose de odalisca reconhecemos de Le Bain Turc original. A série Le Bain Turc não se refere apenas a Ingres, pois neste conjunto de obras (e noutras), Pomar evoca a técnica de recorte e colagem de Matisse. Mais do que mera citação, essa técnica é transposta para pintura – o recorte e a colagem são ficcionados com tinta. Da curiosa combinação entre os dois pintores franceses, entre a primazia do desenho e a sua rejeição, resulta a afirmação da eficácia da linha de contorno na obra de Ingres e dos elementos que, apesar de quase invisíveis em Le Bain Turc de 1862, lhe consolidam e equilibram a composição. Pomar ao destacá-los, liberta-os.
Estamos perante uma pintura que se inscreve na tradição moderna de interpretação, homenagem, apropriação e recriação da obra dos mestres e que justifica a participação do pintor português com exemplos desta série na exposição Le Bain Turc d‘Ingres no Louvre, em 1971, ao lado de nomes como Picasso, Man Ray ou Rauschenberg.
Mariana Pinto dos Santos
Maio de 2010
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Largura | 130 | cm | |
Altura | 161 | cm |
Tipo | assinatura |
Texto | Pomar |
Posição | Frente, margem inferior à direita |
Tipo | data |
Texto | 71 |
Posição | Frente, margem inferior à direita |
Tipo | Aquisição |
Data | Julho 1983 |
4º Prémio Amadeo de Souza-Cardoso: Júlio Pomar |
Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso |
Curadoria: Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso |
13 de Setembro de 2003 a 2 de Novembro de 2003 Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso |
Exposição realizada no âmbito da atribuição do Prémio Amadeo de Souza-Cardoso ao Mestre Júlio Pomar. |