Os temas da História, determinados acontecimentos e episódios históricos e muitas referências visuais da história da arte, da civilização, cultura e imaginário ocidentais são elementos essenciais da obra artística de Alexandre Conefrey (1961).

 

Formalmente as suas obras situam-se na proximidade ao desenho, à pintura decorativa, às técnicas da ilustração, particularmente da iluminura, que é a maior fonte de inspiração do autor. Nos seus trabalhos, o tratamento da linha, de traços finos e leves, ganha realce na realização dos desenhos, contribuindo para a impressão de materialidade refinada e minuciosa do conjunto. A inclusão de citações, textos e palavras que se relacionam e surgem também sob a forma de imagem, é outra característica determinante da obra de Conefrey, que tanto pode representar temas bélicos e de estratégia de guerra, através de paisagens e cenários, como emblemas, símbolos e motivos florais.

 

Nestes três desenhos a aguarela, intitulados Ideal Desfeito, Hurry Up Please It’s Time e Argh!, todos de 2007 e apresentados nesse ano na exposição Lyrica na Galeria Miguel Nabinho, essa relação entre a palavra e a imagem ganha destaque. Neles conjugam-se apelo visual e plástico dos elementos florais com o desconcertante impacte conceptual das referências citadas, num tratamento que manifesta ironia e implica por vezes o deslocamento e descontextualização das referências mais imediatas. Se é patente a atmosfera lírica e poética oferecida pela representação dos motivos figurativos, ganham maiores contornos irónicos e insólitos as dimensões metafórica, narrativa e simbólica das mensagens e imagens que veicula.

 

Assim, nunca desprezando a riqueza visual e material oferecida pela presença da palavra manuscrita no desenho, o que podemos ver e pensar resulta de uma relação e de um jogo de correspondências sempre surpreendentes, assentes no princípio da tensão e complementaridade dos sentidos visuais e conceptuais.

 

 

 

Sandra Vieira Jürgens

Outubro 2014