- 1966
- Platex
- Óleo
- Inv. 67P295
António Palolo
Hórrido Silêncio do Teu Corpo
O Hórrido Silêncio do Teu Corpo (1966) evidencia a aproximação de Palolo às correntes anglo-saxónicas da Pop, rara entre os artistas portugueses, optando pelo suporte em platex, pela gama de cores lisas e brilhantes muito contrastadas, e pela repetição de padrões lineares e bandas bicolores, evocando o psicadelismo das experiências visuais dos anos 60. O vocabulário formal da Pop surge, porém, no contexto das suas pesquisas neofigurativas e da construção experimental da imagem através do confronto de discursos artísticos, combinando as linguagens abstratas e figurativas, figuras humanas e formas geométricas. Apesar de manter o formato tradicional da tela, esta é internamente fragmentada, segundo a lógica da colagem, revelando a sobreposição de planos e perspetivas dentro do quadro.
Na metade inferior, vêem-se os órgãos vitais (coração, pulmões, traqueia) de um corpo parcial, ao qual se ligam, através de tubos e cabos, máquinas várias, roldanas e sistemas de pressão, ocupando a parte superior. Como desconstruídos e reconstruídos pelo pintor, estes elementos dão lugar a um organismo pulsante, com ritmo cardíaco e líquidos fluindo, contendo ainda as marcas da assemblage, nos detalhes da fuselagem, pregos, juntas e argolas que unem a livre associação de formas. Apesar da ambiguidade de sentidos que caracteriza esta pintura, o título – raro nas suas obras de então – é retirado de um poema de Artaud (La momie attachée, 1925)* atestando a herança surrealista, e abrindo leituras existencialistas para o coração escarlate e os fusos a rolar, contra a negra paisagem do fundo. Para mais, a fragmentação simultânea desta imagem do corpo, e do corpo desta imagem, revela no seu lugar uma aparatosa máquina que, movida por engrenagens ocultas, reconhece a artificialidade da pintura e a falência da representação ilusionista, e ao mesmo tempo mostra-a a fabricar novas estratégias a todo o vapor, cuja energia, mecânica e complexidade, contra os que a diziam moribunda, confirmam-na viva.
Afonso Ramos
Abril 2013
* Na versão de António Ramos Rosa, o poema de Artaud intitula-se A Múmia Suspensa: “Tenta o tronco com o olho morto / e revirado para este cadáver, / este despelado cadáver que se lava / no hórrido silêncio do teu corpo. / O ouro que cresce, o veemente / silêncio em cima do teu corpo / e a árvore que carregas ainda / e este morto que adiante vai. / – Olha como rolam os fusos / nas fibras do coração escarlate / este grande coração onde o céu deslumbra / enquanto o ouro te submerge os ossos. / É a dura paisagem do fundo / que enquanto caminhas se desvela / e a eternidade sobrepassa-te / porque não podes atravessar a ponte.”
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Altura | 109,5 | cm | |
Largura | 82 | cm |
Tipo | Aquisição |
Data | 15 Julho 1967 |
Lagos 1960-85: Bravo, Cutileiro, Lapa, Palolo |
Câmara Municipal de Lagos |
Curadoria: João Lima Pinharanda |
9 de Julho de 2005 a 27 de Agosto de 2005 Centro Cultural de Lagos |
Exposição realizada no âmbito de "Faro, Capital Nacional da Cultura 2005" 9 JUL a 27 AG 2005 |
Exposição Permanente do CAM |
CAM/FCG |
Curadoria: Jorge Molder |
18 de Julho de 2008 a 4 de Janeiro de 2009 Centro de Arte Moderna |
Exposição Permanente entre 18 de Julho de 2008 a 4 de Janeiro de 2009. |