• 1994
  • Instalação com espelhos, altifalantes, voz gravada reproduzindo texto em loop
  • Inv. 10E1630

Luísa Cunha

Hello!

DEPOIMENTO DA ARTISTA


 

Apresentada na exposição dos alunos do Ar.Co, Hello! é uma das primeiras obras de Luísa Cunha. Marcadas pela pesquisa pós-minimalista e conceptual em torno da percepção e da linguagem, na relação com o corpo do observador, estas intervenções visualmente discretas privilegiam sobretudo os elementos sonoros, e a invasão de espaços fora do circuito institucional da arte. Nesta instalação, que tem por lugar a casa-de-banho pública, todos os espelhos defronte dos lavatórios são tapados com papel Kraft e fita-cola, e é colocado, em cada cubículo individual, um pequeno espelho, o qual esconde um altifalante que, ativado por sensores de movimento, interpela inadvertidamente os ocupantes com a voz apenas por este audível: Are you there? Can you hear me? Hello!* Recusando o habitual acesso aos espelhos, esta imagem é devolvida inesperadamente no lugar de invisibilidade, o que viola a intimidade e entra numa comunicação ativa, falando com voz própria. A estratégica inversão de rituais, funções e convenções, que governam o espaço altamente codificado do ponto de vista social, baralhando privado e público, fora e dentro, sujeito e objeto, redefine também as condições de confronto com a arte.

 

 

Ao recusar a ideia da obra isolada no lugar institucional de exposição, onde esta aguarda e procura persuadir que o espetador a percorra com os olhos, esta instalação site-specific reduz, ao contrário, a sua presença material ao mínimo, e reposiciona-se de forma a interagir com determinado espaço e sujeito. É a obra que, contra os lugares seguros e soberanos para exposição da arte, surpreende o observador no espaço de intimidade, tornando-o o alvo involuntário de um olhar alheio e desconfortável, redefinindo as expectativas do lugar onde se encontram. Envolvido nesta situação performativa, o observador torna-se participante, dado que a relação física com o seu corpo ativa a obra, e esta leva-o a explorar novas consequências perceptuais da intervenção no tempo e no espaço específico em que é montada, no Ar.Co (1994), a outras casas-de-banho por onde passou, como no Museum of Contemporary Art de Sidney (2004)** e na Casa de Serralves (2007).

 

 

 

* “Estás aí? Consegues ouvir-me? Olá!”

 

** No contexto da 14ª Bienal de Sidney, On Reason and Emotion (2004), comissariada por Isabel Carlos.



 

 

Afonso Ramos

Maio 2013


TipoValorUnidadesParte
   Dimensões variáveis
TipoAquisição
DataDezembro de 2010
Atualização em 23 janeiro 2015

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