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Candido Portinari

Garimpeiros (estudo para mural)

Com a subida de Getúlio Vargas ao poder, após a revolução de 1930, foi encomendada uma nova sede para o Ministério da Educação e Saúde do Brasil, no Rio de Janeiro. O projecto arquitectónico era chefiado por Lúcio Costa, com uma equipa formada por nomes como Niemeyer ou Le Corbusier, tendo a decoração sido endossada a um jovem artista, Candido Portinari, que acabava de ser premiado em Filadélfia. As suas pinturas do trabalho rural e do quotidiano nas favelas cariocas obtinham crescente visibilidade junto do público, e a sua mitificação do trabalho do povo brasileiro era muito acarinhada pelos ideais políticos em afirmação.

 

Portinari ficou incumbido de pintar uma série de frescos que representassem, em doze episódios cronológicos, os ciclos económicos do país desde a chegada dos portugueses: extracção do pau- -brasil, cultura da cana, criação de gado, garimpa, plantação de tabaco, algodão, erva-mate, café, cacau, fundição de ferro, extracção de borracha e de cera de carnaúba. Entre 1936 e 1944, o pintor entrega-se a um exaustivo trabalho de preparação, acumulando cerca de trezentos estudos prévios, feitos em diferentes técnicas, e percorrendo o país de uma ponta a outra, para conhecer os locais, contextos e protagonistas da sua narrativa. Para Garimpeiros (estudo para mural), viajou até Ouro Preto e Mariana, no Estado de Minas Gerais, o local das grandes campanhas de exploração de pedras preciosas.

 

Portinari sabia que para a sua pintura chegar ao povo e exaltá-lo, não podia isolar-se em experiências vanguardistas que apenas preocupavam uma elite. Inspirou-se, por isso, nas recentes propostas mexicanas de Rivera, Orozco e Siqueiros, e escolheu o formato do mural, o mais conveniente à arte social, por ser resistente a tudo e estar disponível a todos. Não obstante, o arranjo formal lembra as lições dos antigos mestres italianos, que tinha estudado afincadamente, ao racionalizar o espaço em momentos significativos, com um agudo sentido de síntese, em que todo o detalhe exterior ao trabalho foi suprimido.

 

Nesta crónica não há espaço para políticos ou grandes vultos da nação. O protagonista é sempre a figura do camponês explorado, o que comprova o duplo propósito do pintor: recuperar o passado histórico para elaborar um discurso de actualidade. Se respeitava os ditames do realismo socialista pregados por Louis Aragon, colocando as figuras sobre a paisagem, elas não passam, no entanto, de pessoas reificadas, sem identidade. O único valor social dos escravos era o trabalho, e Portinari tornou isso muito claro, ao desenhar mãos e pés de modo desproporcionadamente grande.

 

O estudo permite acompanhar passo-a-passo como foi urdido este magnífico anti-épico. Foi este interesse de Candido Portinari pelo significado dos acontecimentos históricos, e não pela sua descrição perfunctória e descomprometida, que o consagrou como o melhor arauto do seu tempo. E, com efeito, alguns anos depois é convidado para uma exposição individual no MoMA e recebe a encomenda de dois murais para a Biblioteca do Congresso em Washington.

 

 

Afonso Ramos

Maio de 2010

 

TipoValorUnidadesParte
Espessura3,2cm
Altura40,2cm
Largura42,5cm
Altura66cm
Largura69,8cm
Tipo título
TextoGarimpeiros
Posiçãono verso
Tipo assinatura
TextoPortinari
Posiçãono verso, no c.i.e.
Tipo outras
TextoOriginal de Candido Portinari Rio, 25 de Maio 1970 Maria Victoria Portinari
Posiçãono verso
Tipo outras
TextoURCA
Posiçãono verso, na trave lateral esquerda
TipoAquisição
Data1 Março 1982
Inauguração do CAM
CAM/FCG
Curadoria: A definir
20 de Julho de 1983
Lisboa, Centro de Arte Moderna/ FCG
20 de Julho 1983.
Atualização em 23 janeiro 2015

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