- 1983
- Papel
- Fotogravura
- Inv. 98GE598
Richard Hamilton
Finn MacCool
Figura seminal da história da Pop Art, Richard Hamilton imaginou visualmente ao longo de cinquenta anos o romance modernista de James Joyce, Ulisses (1922). O retrato Finn MacCool pertence a essa série e representa Raymond McCartney, membro do IRA (Exército Republicano Irlandês), detido na cadeia HM Prison Maze, na Irlanda do Norte. Esta obra de Hamilton apropria-se de uma imagem chocante divulgada nos meios de comunicação, que mostra um McCartney emaciado devido à sua participação numa conhecida greve de fome, em 1980, que pretendia recuperar para os presos parte do estatuto especial como prisioneiro de guerra. A maioria protestante, lealista, que queria conservar o domínio britânico sobre a Irlanda do Norte, encarcerara McCartney entre muitos outros indivíduos alinhados com a minoria católica nacionalista que lutava pela integração do território na República da Irlanda. Este conflito constitucional deu origem a uma série de confrontos conhecidos como «The Troubles».
O título desta obra é o nome anglicizado de um lendário gigante irlandês, popularmente conhecido como um valoroso guerreiro protetor da Irlanda. Hamilton relaciona este antigo gigante com uma personagem do episódio do Cíclope em Ulisses, apenas conhecida como «o cidadão», caracterizada como nacionalista e xenófoba, adotando uma única perspetiva, ou seja, tendo «um único olho». Possivelmente propondo uma versão contemporânea de «o cidadão» de Joyce, Hamilton não representa desfavoravelmente McCartney como um vilão tacanho. Pelo contrário, o artista acentua determinados aspetos da imagem a preto e branco apropriada dos media, de um McCartney de cabelo comprido e barba, permitindo que a imagem adquira semelhanças visuais com as representações populares de Jesus Cristo. O artista eliminou quaisquer referências a um tempo e lugar, vestindo o homem emaciado com uma túnica e manipulando a qualidade fotográfica da imagem que adquiriu deste modo uma leitura pictórica e fantasmagórica. Ao alterar a fotografia original de modo a sugerir uma ligação divina, Hamilton imbuiu esta imagem de atributos de sabedoria e bondade sagradas. Atendendo aos dois grupos cristãos em conflito, a figura Cristo-mimética criada por Hamilton a partir da imagem de McCartney pode ser vista como uma imagem de santidade ou como uma blasfémia.
De acordo com a tendência da Pop Art em combinar imagens e ideias da arte popular e erudita, Hamilton utilizou diversas fontes para esta imagem. Inspirando-se no folclore irlandês, numa reconhecida obra literária e em acontecimentos contemporâneos divulgados pela comunicação social, o artista criou uma imagem de forte cunho político, que pode ser vista como a representação venerável de um mártir da rebelião republicana, como a representação irónica de um falso ídolo ou como a representação de um homem transformado pelos media num objecto de culto.
Olivia Welch
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Altura | 76 | cm | papel |
Largura | 56 | cm | papel |
Altura | 53,7 | cm | imagem |
Largura | 40,3 | cm | imagem |
Tipo | Aquisição |
Data | 27-01-1998 |
1/150 Gravar e Multiplicar |
Almada, Casa da Cerca - Centro de Arte Contemporânea, 2009 |
ISBN:9789728794583 |
Catálogo de exposição |
1/150 Gravar e Multiplicar - Gravuras da Colecção do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian |
Casa da Cerca - Centro de Arte Contemporânea |
Curadoria: Casa da Cerca - Centro de Arte Contemporânea |
31 de Janeiro de 2009 a 17 de Maio de 2009 Casa da Cerca |
exposição comissariada por Ana Vasconcelos, Emília Ferreira e António Canau (Comissário científico). |