• 1983
  • Papel vegetal
  • Marcador e Colagem
  • Inv. DP1417

Júlio Pomar

Fernando Pessoa

Esta obra integra um conjunto de cinco desenhos adquiridos pelo Centro de Arte Moderna a Júlio Pomar, os quais, por sua vez, fazem parte dos múltiplos desenhos que o autor realizou para a encomenda de intervenção na estação de metropolitano do Alto dos Moinhos, em Lisboa.

 

Fernando Pessoa surgira como tema na obra de Pomar logo em 1973, no ciclo em torno do retrato que inicia em começos desta década.* A figura do poeta será um tema a que regressará frequentemente, elegendo-o como mote para explorações das diferentes linguagens plásticas que vai experimentando e, simultaneamente, tomando estas como pretexto para novas indagações sobre as possibilidade de figuração de Pessoa, tema aliás abordado por inúmeros pintores portugueses.**

 

A linguagem plástica e o suporte escolhidos por Pomar para esta encomenda específica, esclarece o autor, decorrem do local público a que se destinavam e do tipo de percepção de que seriam alvo. Excluída a hipótese da pintura — “Paredes ao alcance da mão vândala excluem toda a hipótese de pintura, dama de pele sensível e carnes frágeis” —, o azulejo surge como “solução óptima”: “A conjugação das condicionantes de um lugar público, onde a irreverência dos graffitis vai inevitavelmente surgir, com uma certa tradição de azulejaria, que essencialmente vive do desenho e é também um desenho trasladado; mais a necessidade de prever para este desenho uma maneira de o traçar que aceitasse sem prejuízo a transposição pelo artesão especializado (excluída de origem uma transferência por meios foto-mecânicos, que a fidelidade ao original sacrificaria a marca da mão executante e o travo saboroso dos seus verdores) — deram-me a ideia de cobrir as superfícies que me eram oferecidas com graffitis da minha lavra. O desenho linear pratiquei-o sempre e neste se tem acentuado, ao longo dos anos, o cursivo da escrita. O graffiti é uma inscrição rápida, a despropósito das conveniências, a meio caminho entre o desenho a caligrafia. Combinando o desenho e a escrita, no graffiti a escrita faz-se desenho e o desenho escrita — e o vandalismo exige a rapidez do gesto.”***

 

O processo de concepção da intervenção na estação do Alto dos Moinhos comportou três fases: uma primeira na qual realizou desenhos a carvão, uma segunda em que passava estes a marcador sobre papel vegetal e onde as correcções se faziam por sobreposições sucessivas (de que a presente obra é testemunho), e a terceira e final, onde destes desenhos eram passados a azulejo.

 

A assumpção do desenho ou da pintura como uma caligrafia havia já ocupado Pomar em períodos precedentes, nomeadamente na fase mais gestualista que se segue ao seu período neo-realista. No entanto, aqui assume uma configuração distinta, bem como outras conotações. Por um lado, parece adequar-se metaforicamente ao objecto eleito, como se ao desenhar estivesse a “escrever” em formas os quatro poetas que, no seu entender, marcam a “mitologia da cidade” de Lisboa: Pessoa, Camões, Bocage e Almada. Por outro lado, esse desenho como caligrafia assume aqui propositadamente a noção de rapidez e simplificação do graffiti urbano, cuja depuração e dimensão são pensadas para o transeunte que, no movimento apressado da passagem, as contemplará. Este Fernando Pessoa também em movimento, com os signos distintivos da sua imagem (chapéu, óculos, bigode, laço, fato, gabardine), é representado em traços predominantemente rectos e verticalizados, cuja multiplicação, no entanto, traduz precisamente a sensação de movimento. Um Fernando Pessoa que, tal como o transeunte, caminha pela cidade imerso e simultaneamente absorto dela.

 

* Ver Fernando Pessoa (pintura acrílica sobre tela, 1973) e Fernando Pessoa II (Lisboa com suas Graças) (pintura acrílica sobre tela, 1973) em Catalogue Raisonné II. Peintures et Assemblages. 1968-1985, Paris, Éditions de la Différence, 2001, pp. 82-83.

 

** Sobre algumas das múltiplas figurações de Fernando Pessoa nas artes plásticas ver, por exemplo, Fernando Pessoa: o impossível-possível retrato. Exposição Comemorativa do Centenário do Nascimento de Fernando Pessoa, Porto, Casa de Serralves, 1988.

 

*** Júlio Pomar, Pomar: Um ano de desenho: 4 Poetas no Metropolitano de Lisboa, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian/ Centro de Arte Moderna, 1984, s/ p.

 

 

 

Luísa Cardoso

Fevereiro 2015

TipoValorUnidadesParte
Altura206cm
Largura90cm
Tipo data
Texto83
Posiçãofrente, canto inferior direito
Tipo assinatura
TextoPomar
Posiçãofrente, canto inferior direito
TipoA definir
DataA definir
Atualização em 23 janeiro 2015

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