- 1983
- Papel vegetal
- Marcador
- Inv. DP1419
Júlio Pomar
Fernando 3
A encomenda para intervir na estação de metropolitano do Alto dos Moinhos oferece a Júlio Pomar a oportunidade de se dedicar durante um largo período ao desenho. A presente obra integra-se precisamente nos desenhos prévios que realiza para essa estação, primeiro realizados a carvão, numa segunda fase a marcador sobre papel vegetal (de que é exemplo esta obra) e na fase final passados a azulejo.
Escolhido o tema — quatro poetas e seu universo que Pomar associa ao imaginário da cidade de Lisboa —, o autor concebe o conjunto “como o desenrolar de uma tentativa de os retratar”.* Se compararmos esta obra com o desenho similar, também pertencente à colecção do CAM, intitulado Fernando Pessoa, podemos observar o seu processo de trabalho. Se o desenho é, na essência, idêntico, observam-se desde logo duas diferenças: a disposição da figura na composição — assumindo aqui uma centralidade, enquanto que no outro desenho evocado se dispunha obliquamente — e a depuração das linhas do desenho, ou seja, a busca da sua simplificação para que “os elementos da imagem se reduzam ao mínimo para que desse mínimo possa eclodir o máximo”. Assim, o que estes desenhos revelam “é o que fica invisível sob cada traço — e por isso se ignora ou esquece: o rol dos trabalhos de aproximação até ao isolar do objectivo que por si próprio terá de se impor”. E Pomar esclarece ainda: “Cada um destes estudos é o resultado de muitos outros, cuja razão de ser foi a de lhe prepararem a simplicidade. Se, na voluntária restrição dos meios, o desenho não acusa esforço e parece ter sido a obra de um instante — tal como uma assinatura rápida ou uma sigla — permita-se ao autor lembrar que o que aqui se mostra é o único elo visível de uma cadeia de tentativas, de abordagens repetidas, que se vão sucedendo um pouco à maneira dos assaltos de um combate de boxe. Desde o tatear (sic), o provocar e o isolar dos pontos a tocar — operações que sobrecarregam os rascunhos, até ao decalque final, apto a ser transposto para material cerâmico.”**
Destas repetições vai emergindo a diferença no sentido da simplificação, simplificação essa a que não é alheio o local onde o desenho é efectuado. Realizados desde o início na escala que assumirão na sua produção final em azulejo, os primeiros desenhos, a carvão, poderiam ser efectuados no chão. No entanto, o decalque destes para papel vegetal com marcador é, normalmente, já efectuado na parede, passagem de uma horizontalidade para uma verticalidade que permite uma distância que promove a simplificação e clarificação do desenho.***
Simplificação e clarificação é precisamente o que este desenho adquire quando comparado com o evocado Fernando Pessoa: retendo todos os signos identificadores da personagem, esta simplifica-se numa economia de traços; o jornal, cujos traços também se simplificam, ganha assim um reforço da expressão da sua maleabilidade, e ao mesmo tempo, não deixando de estar num plano mais avançado, funde-se completamente com a personagem que o sustém. Aproximações do artista à esquiva imagem de Pessoa, “até que a luz comece a surgir da interrupção ou da justa distância das linhas, a imagem se precise, e as próprias irresoluções se incorporem ao ritmo da escrita.”****
* Júlio Pomar, Pomar: Um ano de desenho: 4 Poetas no Metropolitano de Lisboa, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian/ Centro de Arte Moderna, 1984, s/ p.
** Idem.
*** “O desenho no chão, implica uma motricidade peculiar em que o movimento do braço se compraz na contradição entre o élan que o solta e o jogo do corpo, enquanto a parede é um apelo constante ao sintetizar da imagem através do recuo. Desenhando no chão está-se dentro da imagem: desenhando na parede, a distancia que varia segundo o vai-vem do pintor, situa o desenho como um objecto exterior, e facilita-lhe a clarificação. O que dita que, por vezes, o carvão ou o marcador, seja fixado num ponteiro, de molde a que a visão guarde o recuo e siga sem distorção o movimento da linha; esta, governada de longe, disciplina-se diferentemente de quando saída do carvão sustido nas pontas dos dedos.” Idem.
**** Idem.
Luísa Cardoso
Fevereiro 2015
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Altura | 215,7 | cm | moldura |
Altura | 204 | cm | papel |
Largura | 125 | cm | papel |
Largura | 139,8 | cm | moldura |
Tipo | assinatura |
Texto | Pomar |
Posição | frente, canto inferior esquerdo |
Tipo | título |
Texto | Fernando 3 |
Posição | frente, canto inferior direito |
Tipo | data |
Texto | 83 |
Posição | frente, canto inferior esquerdo |
Tipo | A definir |
Data | A definir |