Uma das nove esculturas em madeira que resultaram do trabalho de Ângela Ferreira em Lisboa, em 1989, aproveitando o ano sabático de professora na África do Sul como artista convidada no departamento de escultura do Ar.Co. As obras que então apresentou surgem na continuidade das suas anteriores investigações académicas e artísticas em torno de objectos retirados da cultura popular e urbana. Porém, ao mudar-se para Portugal, começa a lidar sobretudo com objectos tradicionais oriundos do mundo rural, por um lado pela sua grande dimensão, por outro, dado o seu interesse particular pela constituição formal dos objectos. Através do desenho, estudava e depurava estas formas que moldava de seguida com o lamelado, material semelhante ao contraplacado, ambos leves, dúcteis e maleáveis a todas as exigências formais, e por isso muito usados por escultores britânicos como Richard Deacon ou Tony Cragg, de quem a artista se sentia próxima.

Apesar da configuração dos objectos escolhidos ser determinada pela função que servem, Ângela Ferreira desconstrói-os por inteiro, e nessa dissecação procura encontrar outra origem para a ordem das formas. Tal re-caracterização criativa do objecto tem um efeito similar às obras do americano Martin Puryear admirado pela artista moçambicana, cujas formas se situam no mesmo limbo, nesse balanço ténue entre parecerem quase reconhecíveis sem nunca chegarem a abstractas – «as minhas esculturas», como declarou Ângela Ferreira, «situam-se nessa espécie de fronteira entre abstracção e figuração».

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