- 1964
- Tela
- Óleo
- Inv. 67P765
Júlio Pomar
Entrada de Touros
Datada de 1964, esta obra pertence já à produção que Júlio Pomar realiza em Paris, cidade para onde se mudara no ano anterior. No entanto, as temáticas e as pesquisas plásticas sobre as quais se vinha debruçando em Portugal persistem, como o comprova a selecção de obras expostas na sua primeira exposição individual na capital francesa, ocorrida na Glaria Lacloche nesse ano de 1964. Aí expõe as Tauromaquias, juntamente com D. Quixote e os Carneiros (obra também pertencente à colecção do CAM), Ponte D. Luiz, Macaco e Chimpazé.
Não obstante o contacto alargado com movimentos e artistas seus contemporâneos que a mudança para Paris lhe proporciona, Alexandre Pomar nega a influência do informalismo europeu ou do expressionismo abstracto norte-americano sobre a obra do artista, afirmando que as suas mutações decorrem de um desenvolvimento interno às problemáticas plásticas que então o interessavam, como seja a pesquisa em torno do movimento: “Nesse trânsito do visto, e sentido, ao visível pictural, ao fazer do quadro, é cada vez mais a arquitectura efémera do espectáculo que importa, na contingência mutável da cena de grupo enquanto conjunção instantânea de formas e forças, e a representação torna-se inscrição caligráfica de fulgurações, cintilação breve de cores, traço ou marca que no seu movimento constrói e faz vibrar o espaço da tela. As diferentes “coisas” vistas como motivo (modelo) da pintura, o espectáculo de touradas e corridas, de personagens ou multidões, precipitam-se num mesmo observar do acontecer da imagem, do aparecer da forma e do seu desfazer, como tradução da sua instável mobilidade. A figura irá dissolver-se na energia das suas linhas de força e no movimento do seu aparecer.”*
Poderíamos aplicar quase integralmente as palavras de Alexandre Pomar acima transcritas à análise da presente obra, intitulada, como tantas outras deste período, Entrada de Touros. Sobre um fundo claro com reverberações de amarelo, emergem, como “fulgurações” que logo ameaçam desvanecer-se, as figuras dos touros nos seus múltiplos movimentos entrecruzados. A representação dos touros, ainda que central, é deslocada para a parte superior da composição, oferecendo assim uma perspectiva recuada da cena e dotando-a de um amplo espaço em seu redor, o qual “respira” e parece apresentar-se como um motivo em si mesmo no enquadramento escolhido. Deste modo, ao longe, observamos a disposição dos touros numa formação tendencialmente oval, mas onde pressentimos a tensão de movimentos contrários. Da breve emergência das figura dos touros, em pinceladas negras, amarelas e brancas, reconhecemos com maior facilidade o referente na figura central, a mancha negra mais compacta com a sugestão dos cornos, sobretudo se atentarmos a obras que realiza no mesmo ano, como sejam os óleos sobre tela intitulados Entrada de Touros e Touro.**
Todavia, forçoso é reconhecermos que ao longo da sua pesquisa em torno das tauromaquias, iniciada em 1960, a expressão de corpos em movimentos contrários conduz Pomar a uma gradual dissolução da forma, aproximando-se da assumpção do quadro como um índice — um signo gravado — do movimento traduzido, seja este o da figura representada, seja o do próprio gesto do pintar.
* Alexandre Pomar, “Júlio Pomar” in Júlio Pomar. Catálogo ‘Raisonné’ I. Pinturas, Ferros e ‘Assemblages’. 1942-1968, Paris, La Différence, 2001-2004, p. 22.
** Ver Júlio Pomar. Catálogo ‘Raisonné’ I. Pinturas, Ferros e ‘Assemblages’. 1942-1968, Paris, La Différence, 2001-2004, pp. 200-1.
Luísa Cardoso
Fevereiro 2015
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Altura | 88 | cm | |
Largura | 116 | cm |
Tipo | assinatura |
Texto | Pomar |
Posição | c.i.e. |
Tipo | data |
Texto | 64 |
Posição | c.i.e. |
Tipo | Aquisição |
Data | 14 Julho 1967 |
4º Prémio Amadeo de Souza-Cardoso: Júlio Pomar |
Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso |
Curadoria: Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso |
13 de Setembro de 2003 a 2 de Novembro de 2003 Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso |
Exposição realizada no âmbito da atribuição do Prémio Amadeo de Souza-Cardoso ao Mestre Júlio Pomar. |