• 1974
  • Tela
  • Óleo
  • Inv. 81P934

Nikias Skapinakis

Encontro de Natália Correia com Fernanda Botelho e Maria João Pires

A obra Encontro de Natália Correia com Fernanda Botelho e Maria João Pires, de Nikias Skapinakis, é a última de um ciclo temático intitulado Para o estudo da melancolia em Portugal que o artista iniciara em 1967, com a obra As Três Graças. Ambos os trabalhos se aparentam pois pela abordagem do retrato conjunto, de personagens femininas plasmadas na tela sobre um fundo branco, encerradas no seu mutismo apesar da coexistência no mesmo espaço plástico e simbólico.

Todavia, enquanto n’As Três Graças, as figuras encontram-se niveladas num mesmo agregado de formas e cores ao centro da composição, Encontro de Natália Correia… introduz uma distinção fundamental entre a figura da esquerda – a poetisa Natália Correia – e as duas personagens da direita, sentadas no chão, as mais jovens retratadas, Fernanda Botelho e Maria João Pires, respectivamente escritora e pianista.

A polarização simbólica é dupla: no semi-afastamento das figuras para as margens laterais do quadro, por um lado, e no desnivelamento vertical das mesmas, por outro, com uma Natália Correia soberana, sentada de perfil, ao mesmo tempo vigilante e maternal, com o seu olhar projectando-se num além insondável. Desnivelamento simbólico e existencial decerto, não só pela idade das protagonistas, como pela experiência vivida e pelo protagonismo de cada uma, no espaço cultural português da época.

Na composição, o pintor entendia assim reservar a Natália um estatuto distinto também registado pela elevação do seu corpo numa cadeira de café – aludindo com este único objecto banal ao Botequim, café-bar lisboeta que Natália Correia fundou e geriu, a partir de 1971, com Isabel Meireles, Helena Roseta e Júlia Marenha e que foi ponto de encontro de intelectuais e artistas.

O ciclo Para o estudo da melancolia em Portugal encerrou-se com esta obra, muito embora uma derradeira tivesse estado em preparação (com os poetas Mário-Henrique Leiria e Mário Cesariny). Com a mudança de regime, em 25 de Abril de 1974, a nova situação democrática tornava realidade o sonho da livre expressão da palavra e da alegria. Para Nikias Skapinakis, porventura, deixara de fazer sentido um estudo sobre uma melancolia que fora indiferença amarga para numerosos artistas e intelectuais portugueses, prolongada na sombra da ditadura. Nas suas pinturas, os retratados – mesmo quando integrados na segurança dos seus grupos afectivos ou classes profissionais (Os críticos, 1971) – seriam sempre representados de boca fechada, num sempiterno silêncio, como aves exóticas em cativeiro, imobilizadas num espaço concluso e imaterial. Com as suas figuras recortadas e aplanadas sobre um fundo uniforme sem chão nem céu, o Encontro de Natália Correia…, como outras obras do mesmo ciclo, reflecte o tempo da liberdade condicional que passaria à história idealizado pelo artista em nova sequência iconográfica: Os Caminhos da Liberdade.

 

Ana Filipa Candeias
Maio de 2010

TipoValorUnidadesParte
Altura140cm
Largura110cm
Tipo data
Tipo assinatura
TipoAquisição
DataJulho 1981
Atualização em 01 maio 2023

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