• 1978
  • Tela
  • Óleo
  • Inv. 78P587

Nikias Skapinakis

Égina e a Águia Arrebatadora (Série: As Metamorfoses de Zeus – VIII)

Obra de grande formato, revela-nos uma mulher nua juntamente com uma ave predadora de grande porte, recortando-se num fundo branco. A ave é uma águia, a soberana dos céus. Afigura-se de asas abertas, em voo portanto, pousando as garras na coxa da mulher deitada, entorpecida. Para lá do erotismo tacitamente implicado na nudez e na aproximação rapace da ave, ou seja, para lá da imaginação subjetiva do artista, o título da obra transporta-nos ao contexto distante de um rapto pagão.

 

A mulher é Egina, filha do deus-rio Asopo. Improvável e glamorosa Egina, de pele escura e lustrosa como um manequim, a sua pose sensual e cinematográfica afasta-a do modelo antigo que lhe serve de referência. Está estendida com os braços reclinados, as mãos à cabeça. Dormente, de olhos semicerrados, é surpreendida pelo assalto da águia cujas garras realçadas em rosa pálido e amarelo se prendem à coxa. A águia é Zeus, o deus superior, conquistador incorrigível, travestido aqui sob mais um dos seus inúmeros disfarces para consumar um intento amoroso.

 

Observados a meia distância Egina e a águia Zeus apresentam-se como unidade visual, numa massa oblonga e escura, compacta e assimétrica que atravessa o quadro a todo o comprimento pela diagonal. A unidade do par é conseguida também pela paleta harmoniosa de castanhos e preto – tonalidades de simbolismo telúrico que estabelecem um intenso contraste (em negativo) com o fundo branco. As referências espaciais são apenas aquelas que os corpos sugerem no seu volume sumariamente indicado por pequenos apontamentos róseos, na sua disposição assimétrica e em contraposto, no plano da imagem. Liberta de outras marcas acessórias que não sejam a presença dos dois protagonistas, a composição vive da síntese da forma-cor como de uma síntese do simbolismo inerente a esta: a terra e a carne (castanho-preto/rosa) opõem-se ao vazio branco imponderável onde as figuras parecem levitar, quer dizer, ao ar, domínio celestial e superior, morada do deus supremo e sedutor. O efeito de vertigem vem ainda sugerido pelo corpo inteiro da Egina que se oferece vista de cima, como se em perspetiva aérea. Ambos valores (telúrico e aéreo) são pois elementos essenciais ao episódio do adultério mitológico: Egina, de acordo com Higino, Pausânias e outros autores antigos, fora arrebatada da sua ilha ou do seu palácio e levada pelos ares para a ilha de Delos onde se consumiu a relação com o deus adúltero.

 

Mediada por um grafismo linear e económico e por uma clareza compositiva cara a Nikias Skapinakis, Egina vive de uma atualização do mito às premissas sintéticas da imagem visual na época contemporânea. Penúltima peça de uma série de nove «Metamorfoses de Zeus» que o pintor realizou entre 1970 e 1979, foi apresentada pela primeira vez na Galeria 111, em Dezembro de 1978, conjuntamente com um estudo do mesmo nome hoje também na coleção do Centro de Arte Moderna.

 

Ana Filipa Candeias

 

Maio de 2013

 

TipoValorUnidadesParte
Altura146cm
Largura168cm
TipoAquisição
DataNovembro 1978
Atualização em 23 janeiro 2015

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