Em inícios da década de 60, Lawrence Alloway, crítico de arte londrino e curador do ICA (Institute of Contemporary Art), chamou a atenção para a importância do papel do observador e a sua participação directa na obra de arte, preocupação evidente nos trabalhos dos artistas da época, tanto abstraccionistas como figurativos. A preferência de Allen Jones era pelo espectáculo e pelo glamour, e a sua temática centrava-se no estereótipo da figura feminina em anúncios publicitários, revistas coloridas e tiras de banda desenhada.

 

Em Dance with the Head and the Legs… (Dança com a Cabeça e as Pernas…), o observador é fortemente aliciado pelo erotismo da representação. A composição é extremamente rica, com uma figura masculina turva, pintada de pernas para o ar e executada de forma plana, e uma figura feminina, pintada com contornos esféricos, envolvidas numa vibrante aura colorida. São formas, ou melhor, figuras híbridas em movimento, carregadas de erotismo mas também portadoras de significado social: o acto do coito é uma referência à relação entre homem e mulher na sociedade contemporânea. O uso frenético da cor e de superfícies hiper-reais acentua o estranho da situação. Os planos pintados são desconstruídos, para se refazerem na mente do observador de acordo com a sua própria fantasia e imaginação.

 

Jones é um pioneiro que representa de forma cândida o seu interesse pelo mundo dos sentidos e o equilíbrio entre o sexo masculino e o feminino, interesse que surgiu provavelmente do estudo das teorias de Nietzsche, Jung e Freud.

 

Dance with the Head and the Legs… manifesta claramente que o corpo feminino foi, ao longo da História, objecto de intenso escrutínio e uso de convenções sociais. Jones comenta a sua relação com o corpo masculino, aludindo à realidade da emancipação feminina e ao clima geral de libertação das normas do passado, que prevalecia no ambiente social progressista da Swinging London dos anos 60. Jones desenvolve mais tarde a iconografia do erótico durante a sua estadia em Nova Iorque no período entre 1964 e 1965. De imediato se familiarizou com o ambiente de carregada sexualidade do imaginário fetichista produzido em massa pelas indústrias da publicidade e do entretenimento da cidade. Expressou a sua sensibilidade Pop através da criação de um vocabulário de símbolos pictóricos de extremo erotismo, de um estilo linear preciso, que confirma a sua visão romantizada e irónica das novas sociedades de consumo.

 

No final dos anos 60, Allen Jones cria importantes litografias a cores em offset, com a mesma temática sensual e, no ano de 1969, começa a criar esculturas de vidro encenando encontros sexuais entre homens e mulheres. O talento único de Jones no design gráfico testemunha-se pelas suas serigrafias e litografias. A sua carreira multidisciplinar estendeu-se à cenografia para teatro, cinema e televisão.

 

 

Margarita Kataga

Maio de 2010