Esta imagem remonta ao primeiro ano de atividade fotográfica de Castello-Lopes, na altura já com 31 anos de idade, mas denota um tema que o acompanharia durante toda a sua carreira fotográfica – a água. Como referiu o autor em entrevista a Luísa Costa Dias, «a água foi sempre um elemento que me fascinou […]. Não foi certamente por acaso que comecei a fotografar debaixo de água.»* Efetivamente, a fotografia surgiu na vida de Castello-Lopes através da sua paixão pelo mergulho, iniciada em França em 1955, altura em que também adquiriu uma máquina fotográfica Foca, substituída em 1957 pela Leica M3, do seu mestre Cartier- Bresson.

 

Nesta fotografia de um estendal de roupa, o elemento humano – o tema principal de reflexão do autor na década de 50 – está apenas subentendido, dando Castello-Lopes mais importância à presença da água como elemento de composição. A este respeito afirmou: «A água, e particularmente os charcos, são reflectores de luz paradoxais. Fotografar um charco é como mostrar que, ao arrepio da luz solar, esta pode ser reflectida por uma poça e, estranhamente, de baixo para cima. O paradoxo reside nesse reflexo que algumas vezes funciona como espelho.»**

 

 

*Luísa Costa Dias, «Uma Conversa com Gérard Castello-Lopes», in Gérard Castello-Lopes: Oui Non, catálogo de exposição, Lisboa: Fundação Centro Cultural de Belém, 2004, p.1.

** Idem, p.13.

 

 

 

JO

 

Agosto de 2011