- Papel
- Resina de álcool e Água-tinta
- Inv. GP87
Júlio Pomar
D. Quixote II
Sobre a exploração do tema de D. Quixote por Júlio Pomar — sobre o qual começa a trabalhar em 1957 para ilustrar a obra literária e o qual tomará por mote em pinturas e esculturas — Marcelin Pleynet lança a seguinte interrogação: “Enquanto ‘neo-realista’, se quiser, mas em todo o caso enquanto materialista consequente e consciente das formas sempre dominantes do idealismo artístico, não será também para determinar o lugar do pintor e da pintura na sociedade que Júlio Pomar vai dedicar, na primeira metade dos anos sessenta, um grande número de quadros aos temas de Dom Quixote (com Júlio Pomar, Dom Quixote torna-se pintor) e da tauromaquia: da arena pictural, da pintura, do quadro como arena?”*
Após um período inicial da sua carreira em que se envolve activamente no movimento neo-realista, Pomar começa, ao longo da década de 50, a ensaiar novas linguagens. A percepção do “quadro como arena”, a que alude Pleynet, refere-se ao gestualismo que começa a explorar em finais de 50, em pinturas como Lota (1958) ou Os Cegos de Madrid (1957-59). Abandonando uma preocupação de descrição realista, a forma passa a estruturar-se a partir do movimento da pincelada, que não só deixa uma forma que se apresenta como índice da sua passagem, como imprime movimento à imagem que assim emerge.
Neste D. Quixote II observamos uma opção compositiva simétrica à da gravura D. Quixote I (também pertencente à colecção do CAM): a figura de D. Quixote montado no seu cavalo é descentrada para a direita, apresentando uma ordenação eminentemente vertical (patas, pescoço e focinho do cavalo, figura hirta do cavaleiro e sua lança). As figuras descarnadas, sugeridas em gestos rápidos, fluidos e imprecisos, testam os limites superior e inferior da moldura, deixando um vazio à esquerda que permite a figuração respirar, dotando-a de uma relativa profundidade. As figuras, a negro, destacam-se sobre um fundo esverdeado e abstracto.
O período mais gestualista da produção de Pomar confirma a sugestão de Pleynet (herdada da crítica norte-americana sobre o Expressionismo Abstracto) sobre a imagem emergir de uma luta ou de uma coreografia do pintor sobre a superfície do quadro ou da matriz da gravura. O próprio autor o confirma ao afirmar: “O fazer do quadro é uma espécie de tauromaquia, um jogo da finta e da esquiva sobre um fundo sacrificial.”**
* Marcelin Pleynet, “Se a pintura é antes de mais um fazer…” in Júlio Pomar. Catálogo ‘Raisonné’ I. Pinturas, Ferros e ‘Assemblages’. 1942-1968, Paris, La Différence, 2001-2004, p. 29
** Júlio Pomar em entrevista a João Fernandes in Júlio Pomar: Cadeia da Relação, Porto, Museu de Serralves/Civilização, 2008, p. 57
Luísa Cardoso
Fevereiro 2015
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Altura | 52,2 | cm | papel |
Largura | 24 | cm | mancha |
Largura | 40,2 | cm | papel |
Altura | 33,3 | cm | mancha |
Tipo | A definir |
Data | A definir |
1/150 Gravar e Multiplicar |
Almada, Casa da Cerca - Centro de Arte Contemporânea, 2009 |
ISBN:9789728794583 |
Catálogo de exposição |
1/150 Gravar e Multiplicar - Gravuras da Colecção do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian |
Casa da Cerca - Centro de Arte Contemporânea |
Curadoria: Casa da Cerca - Centro de Arte Contemporânea |
31 de Janeiro de 2009 a 17 de Maio de 2009 Casa da Cerca |
exposição comissariada por Ana Vasconcelos, Emília Ferreira e António Canau (Comissário científico). |