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Júlio Pomar

D. Quixote

A ilustração de obras literárias é uma constante da produção de Júlio Pomar. O tema de D. Quixote introduz-se no seu imaginário em finais dos anos 50, altura em que ilustra, entre 1957 e 1959, uma versão em Português de Aquilino Ribeiro. Este é aliás um período prolífico na ilustração de obras, já que na segunda metade da década ilustra uma biografia de Camilo Castelo Branco, As Mil e Uma Noites, O Barão, de Branquinho da Fonseca e realiza vários estudos para Guerra e Paz de Tolstoi. O tema de D. Quixote será alvo de pintura (como D. Quixote e os Carneiros, de 1961, também pertencente à colecção do CAM) e de esculturas em ferros soldados.

 

Alexandre Pomar considera, inclusivamente, que “a prática intensa do desenho destinado à ilustração de obras literárias (…) não é alheia à evolução da sua pintura por novos caminhos expressivos”, uma vez que a utilização do “pincel japonês trazido de Paris, em sequência da admiração por Hokusai” o levaria a explorar uma “escrita veloz e sincopada onde os gestos e as formas se definem na clareza e no ritmo dos gestos.”* Com efeito, nesta gravura datada de 1959 podemos observar como Pomar abandona a sua anterior linguagem realista e explora novos caminhos ligados ao gestualismo e ao informalismo, embora nunca abandone a figuração.

 

Ainda que de uma gravura se trate, Pomar consegue manter toda a expressividade gestualista que então começava a explorar na pintura. Sobre um fundo negro e ocre, o autor representa de perfil a figura esguia de D. Quixote sobre o seu cavalo. Estas figuras “giacomettianas” não têm qualquer pretensão de descrição detalhada ou de contornos delineados: a sua forma advém de um gesto rápido que deixa a marca do seu movimento. A tensão entre a imagem e os seus limites — constante da pesquisa de Pomar — é também aqui evidente, já que a dupla ocupa praticamente todo o espaço disponível. A composição mantém a sua tensão através do jogo entre os eixos diagonais, verticais e horizontais das suas formas, ou seja, entre a figura ligeiramente descentrada de D. Quixote para a esquerda que estabelece uma diagonal com as patas dianteiras do cavalo, a verticalidade da figura do primeiro e das patas do animal, e a horizontalidade do dorso do último sublinhada pela lança.

 

É a partir desta estrutura compositiva, aliada ao movimento que a forma retém do seu gesto, que a imagem da gravura se anima. Ou como diria a eloquência de Pomar: “Digamos que o gesto vai a par da palpitação da forma, é a procura de uma labareda que se levante e conduza — ou incendeie — no imaginário da pintura, a única verdadeira realidade da pintura que é a matéria pictoral.”**

 

* Alexandre Pomar, “Júlio Pomar in Júlio Pomar. Catálogo ‘Raisonné’ I. Pinturas, Ferros e ‘Assemblages’. 1942-1968, Paris, La Différence, 2001-2004, p. 21

 

** Júlio Pomar em entrevista a João Fernandes in Júlio Pomar: Cadeia da Relação, Porto, Museu de Serralves/Civilização, 2008, p. 39

 

 

 

Luísa Cardoso

Fevereiro 2015

TipoValorUnidadesParte
Largura24,9cmmancha
Altura39cmmancha
Altura52,3cmpapel
Largura39,7cmpapel
TipoA definir
DataA definir
Atualização em 23 janeiro 2015

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