- 1957
- Tela
- Óleo
- Inv. 83P703
Júlio Pomar
Cegos de Madrid
No seguimento de Maria da Fonte de 1957, esta é uma das obras emblemáticas que marca uma viragem na pintura de Júlio Pomar (Lisboa, 1926) depois de um período em que ensaiou uma linguagem realista mais convencional. O impacto da pintura de Goya, com que contactou na sua primeira viagem a Madrid em 1950, far-se-á sentir não só nestas pinturas, como nas ilustrações imediatamente anteriores e contemporâneas que constituem uma larga fatia do seu trabalho nestes anos e cuja exploração técnica terá contribuído para as significativas e permanentes mudanças na sua pintura.* As experiências ensaiadas em ilustrações com o pincel japonês comprado em Paris em 1956 terão sido determinantes para a adopção da pincelada gestual que marcará a sua obra pictórica daqui em diante (embora faça depois outras incursões técnicas, com o uso do acrílico e colagem), e que dispensará o desenho preparatório.
Pomar, cruzando uma já digerida herança neo-realista com Goya e a paleta de Columbano, e sem abandonar o referente, apropriava assim os expressionismos e gestualismos que dominavam nesta época a cena internacional no campo da pintura. Escolheu uma frase de James Joyce como epígrafe para estes anos, 1959-66, «Fechemos os olhos para ver.»
O bloco piramidal negro amorfo, de onde surgem enunciadas a branco as faces cadavéricas dos cegos e os recipientes para recolher esmola, impede qualquer individualização das figuras humanas. A impossível orientação que procuram, apoiando-se na cegueira uns dos outros, torna-os uma massa que é, no entanto, a única forma reconhecível avançando no total informe que constitui o fundo. Não se pode evitar recordar o quadro de Bruegel de 1568, Parábola dos Cegos, baseado no que Jesus diz aos Fariseus: «Quando um cego guia outro, acabam por cair os dois no buraco» (Mateus 15:14). Em Os Cegos de Madrid o espectador é, também ele, votado à cegueira face à queda iminente.
* Isto mesmo foi notado por Alexandre Pomar, em "Júlio Pomar", in Júlio Pomar. Catalogue raisonné I: peintures, fers et assemblages, 1942-1968, Paris: La Différence / Artemágica, 2004, p. 21.
MPS
Novembro de 2010
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Altura | 81,5 | cm | suporte |
Largura | 101,3 | cm | suporte |
Altura | 84,5 | cm | moldura |
Largura | 104,5 | cm | moldura |
Profundidade | 4 | cm | moldura |
Tipo | data |
Texto | 1957-59 |
Posição | frente, canto inferior esquerdo |
Tipo | assinatura |
Texto | POMAR |
Posição | frente, canto inferior esquerdo |
Tipo | Aquisição |
Data | Julho 1983 |
50 Anos de Arte Portuguesa |
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2007 |
ISBN:978-972-678-043-4 |
Catálogo de exposição |
Júlio Pomar: um artista português |
São Paulo, Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2008 |
Catálogo de exposição |
50 Anos de Arte Portuguesa |
Fundação Calouste Gulbenkian |
Curadoria: Raquel Henriques da Silva, Ana Ruivo e Ana Filipa Candeias |
6 de Junho a 9 de Setembro de 2007 Sede da FCG, Piso 0 e 01 |
Júlio Pomar: um artista português |
Pinacoteca do Estado de São Paulo |
Curadoria: Hellmut Wohl |
5 de Abril de 2008 a 18 de Maio de 2008 Pinacoteca do Estado de São Paulo |
Autobiografia |
Sintra Museu de Arte Moderna |
8 de Maio a 28 de Novembro de 2004 Sintra Museu de Arte Moderna |
4º Prémio Amadeo de Souza-Cardoso: Júlio Pomar |
Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso |
13 de Setembro a 2 de Novembro de 2003 Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso |