As Tauromaquias ocupam o pintor durante grande parte da década de 60, servindo eminentemente como pretexto para a sua pesquisa em torno do movimento e da expressão sinestésica de um momento; todavia, nesta gravura Pomar encontra um dialecto distinto dentro de uma mesma linguagem. Se nas pinturas que faz no mesmo ano e sobre o mesmo tema a pincelada se faz mancha e rasto de um movimento sobre a tela, com a densidade corpórea da área que lhe corresponde, nesta gravura parece ater-se à própria essência, como que descarnada, das formas e do movimento.

 

A obra apresenta-nos a representação de um cavaleiro sobre a seu cavalo, central na composição mas perspectivado sobre o seu lado esquerdo. O momento captado da montada é o impulso de um galope ou de um arranque, com as patas dianteiras do animal levantadas, os corpos do cavalo e do cavaleiro a vencerem a resistência de um vazio em que se lançam. Todo esse ímpeto parece impresso nas manchas que estruturam a composição: tanto a figura como o seu fundo parecem alongar-se nesse movimento em diagonal que a trajectória da montada sugere, numa diagonal do canto inferior direito para o canto superior esquerdo; porém, esta linha de força é contrabalançada pelos troncos do cavalo e cavaleiro que, retidos pela resistência do impulso inicial, descrevem uma diagonal em sentido oposto, do canto inferior esquerdo para o canto superior direito.

 

Esta tensão de forças opostas e complementares, de onde resulta uma figuração triangular, é traduzida com o mínimo de matéria das formas. As manchas que representam cavalo e cavaleiro remetem para uma expressão giacomettiana na sua redução material. Mas, ao invés do estatismo comum ao evocado artista, essa depuração é, nesta gravura de Pomar, índice de um movimento. Retenção da essência das formas em movimento.

 

 

 

Luísa Cardoso

Fevereiro 2015