Amadeo de Souza-Cardoso

Canção popular a Russa e o Figaro
c. 1916 (data atribuída)

Galeria


Informação técnica

Autor(es)
Amadeo de Souza-Cardoso (Manhufe, Portugal, 1887 – Espinho, Portugal, 1918)
Título
Canção popular a Russa e o Figaro
Data
c. 1916 (data atribuída)
Materiais e meios
Tela; Óleo
Técnica
Óleo sobre tela
Dimensões
Largura 60,00 cm (tela); Altura 80,00 cm (tela)
N.º de inventário
77P18

Inscrições

Tipo
Assinatura
Descrição
amadeo / de souza / c ardoso
Posição
Canto inferior esquerdo

Incorporação

Tipo
Doação
Proveniência
Lucie de Souza Cardoso
Data
1977

Texto

Amadeo trabalhou referências às tradições e à arte popular portuguesa ao longo de praticamente todo o seu percurso. No período da 1ª Grande Guerra, que corresponde ao regresso forçado de Amadeo a Portugal, é já sensível o seu distanciamento em relação às tendências abstractizantes que tinham dominado a produção parisiense imediatamente anterior. Apesar do título que Amadeo deu às suas duas exposições individuais de 1916 – “Abstraccionismo” –, a primeira no Porto e a segunda em Lisboa, o que produz nestes anos são telas repletas de signos legíveis.

Canção popular  –  a Russa e o Figaro (1916) é um dos trabalhos que evidencia esta tendência. Amadeo propõe aqui uma composição fragmentada, de cores fortes, onde a representação é trabalhada de modo não-ilusionista. Os elementos figurativos que flutuam na tela – as loiças e barros coloridos, as janelas e as casas, a boneca – não têm uma vocação descritiva nem se esgotam numa referência única. Pelo contrário, estes signos expandem o seu potencial de significação em termos que tornam a interpretação instável, mais rica porque capaz de somar novas possibilidades de leitura. As loiças e barros coloridos, por exemplo, não fazem apenas referência aos objectos artesanais que denotam, mas podem também ser lidos como conotando o fascínio de Sonia Delaunay pelos mercados e a arte popular portuguesa. Esta hipótese é reforçada pela boneca representada no centro da composição dado que, para além da pequena mona de lenço e avental que o pintor possuía e que pintou também noutras telas (como Canção Popular e o Pássaro do Brasil, 1916; col. Museu de Amarante), se desdobram possíveis sentidos a atribuir-lhe. Ou seja, a boneca pode ser lida como representando “a Russa”, neste caso a própria Sonia Delaunay que era, como se sabe, natural da Ucrânia.

O encontro encenado em Canção popular  –  a Russa e o Figaro, entre signos da cultura popular regional e referências internacionais cultivadas como é, neste caso, a menção ao jornal francês Le Figaro (o jornal-janela que era leitura diária na casa dos Delaunay de Vila do Conde*) reenvia para a necessidade de superar lógicas dicotómicas entre estes dois mundos afinal interdependentes.

 

Joana Cunha Leal

Julho de 2013

 

* Cf.  Ferreira, P., Correspondance de quatre artistes portugais: Almada-Negreiros, José Pacheco, Souza-Cardoso, Eduardo Vianna avec Robert et Sonia Delaunay, Paris: FCG / CCP / PUF: 1972, p. 45.

Definição de Cookies

Definição de Cookies

Este website usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação, a segurança e o desempenho do website. Podendo também utilizar cookies para partilha de informação em redes sociais e para apresentar mensagens e anúncios publicitários, à medida dos seus interesses, tanto na nossa página como noutras.