- Papel Fabriano
- Gravura sobre cobre
- Inv. GP213
Júlio Pomar
Campino (I)
Com óbvias afinidades com a gravura Cavaleiro, também pertencente à colecção do CAM, a presente obra constitui-se como mais uma variação em tono do tema das tauromaquias, constante ao longo da produção de Pomar nos anos 60.
Recorrendo a uma reduzida gama de tonalidades — ocre, amarelo e negro —, Pomar capta um instante de um movimento num jogo de tensões. Resultante de um intrincado de manchas, a imagem surge num cruzamento de diagonais que quase descreve um “x”, ligando os quatro cantos da obra. Deste emaranhado, vemos emergir a figura do campino, montado sobre o seu cavalo e segurando o bastão com que conduz o gado. As patas do animal parecem soerguer-se no ar, enquanto o braço do cavaleiro empunha o bastão, como se de uma pega a cavalo se tratasse.
De uma centralidade quase ortogonal na composição, a figura, perspectivada sobre o seu flanco esquerdo, é tudo menos estática. As esparsas manchas, que sinalizam apenas a essência reduzida da sua matéria, dispõem-se um traços sinuosos, expressivos da tensão dos corpos no movimento. Estas linhas de força que compõem a figura estendem-se para o campo imediato que a rodeiam em manchas de amarelo, as quais corroboram o movimento da figura e, simultaneamente, animam o fundo sobre o qual se inscrevem, como se o ambiente fosse moldado pela própria acção.
Arriscando uma interpretação histórica para o ciclo das Tauromaquias de Pomar, Fernando Azevedo afirma: “As “Tauromaquias” serão também uma resposta, na sua violência de festa, de jogo alacre da vida e da morte, à soturnidade nacional, surpreendida no seu próprio espectáculo. Raramente um pintor português terá arremessado com tal força e intensidade luminosa um facho de sol desenhado a cor de sangue, contra a opressiva e opaca sombra, tantas vezes e tão dramaticamente adejando, como um monstro, nesta Pátria. Numa coerência que de imediato se não vê, mas que me traz à memória, agora, os desenhos, então negros, da juventude de Pomar. Protestos seus, a que muitas raivas deram forma e tão nacionalmente entendidos. Denúncia da violência e da brutalidade, das cargas policiais numa cidade atónita, acordada no seu sono para ouvir, entre socos, cacetadas e tiros, um simples grito à liberdade republicana.”* Numa entrevista concedida dois anos depois, Pomar confirmaria esta interpretação: “Visto agora, os touros marcam o fim do meu trabalho em Portugal. Não é por acaso que das touradas eu retenho as coisas portuguesas. Não se mata o touro mas imobilizamo-lo; e se por parte dos moços há grande cópia de costelas partidas, mais garboso é; a morte do inimigo não é à vista, mas sim escondida: os bons sentimentos do Salazarismo em toda a sua glória.” **
* Fernando Azevedo, “Pomar” in Júlio Pomar. Pintura, Escultura, Desenho, Gravura, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1978, s/p.
** Helena Vaz da Silva com Júlio Pomar, Lisboa, Edições António ramos, 1980, p. 41.
Luísa Cardoso
Fevereiro 2015
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Largura | 44,2 | cm | papel |
Largura | 25,8 | cm | mancha |
Altura | 58,8 | cm | papel |
Altura | 34,2 | cm | mancha |
Tipo | A definir |
Data | A definir |