Amadeo de Souza-Cardoso

Avant la corrida
c. 1912 (data atribuída)

Galeria


Informação técnica

Autor(es)
Amadeo de Souza-Cardoso (Manhufe, Portugal, 1887 – Espinho, Portugal, 1918)
Título
Avant la corrida
Data
c. 1912 (data atribuída)
Materiais e meios
Tela; Óleo
Técnica
Óleo sobre tela
Dimensões
Altura 60,00 cm (tela); Largura 92,00 cm (tela)
N.º de inventário
06P1267

Inscrições

Tipo
Assinatura
Descrição
A. DE SousA CaRDoso
Posição
Canto inferior direito

Incorporação

Tipo
Aquisição
Data
Maio de 2006

Texto

Apresentada entre pinturas cubistas no X Salon d’Automne (Paris, 1912), e levada depois ao Armory Show (1913), onde seria uma das obras escolhidas para os postais de venda e divulgação mediática, Avant la corrida pode ser entendido como um posicionamento de Amadeo face à emergência do cubismo e futurismo. Ao procurar atualizar o universo temático pessoal das cavalgadas através de uma geometrização do conjunto, numa estilização maneirista, graficamente saturada – análoga a Le Prince et la Meute e Dom Quixote –, concretiza uma paradoxal visão cubo-futurista que, assente na decomposição dinâmica da velocidade, é paralela a outras obras pioneiras desse ano – sobretudo a tela perto da qual é exibida em Chicago, o Nu descendant l’escalier de Marcel Duchamp*, – entre os primeiros ensaios modernistas de captar o movimento com meios pictóricos, contra o estaticismo cubista, mas sem aderir, igualmente, aos princípios doutrinários do futurismo.**

Avant la Corrida complica deliberadamente a legibilidade do tema no título, em benefício do jogo pictórico, marcado pela força dinâmica das linhas curvas ou oblíquas, gravadas como golpes na tela, num efeito de ondulações sucessivas que contrasta com aspecto anguloso do cubismo ortodoxo. A metódica desconstrução formal de Amadeo, de peculiar arranjo rítmico, dá lugar aos planos ensombrados e abstracionistas que sugerem ação, profundidade e volume às figuras, apesar da sua posição estática. O alvoroço da populaça antes da corrida confunde-se assim na espacialidade plana, apesar de manter a moldura tradicional para Amadeo: no primeiro plano, figuras sentadas observam o desfile; ao fundo, apontamentos de uma paisagem rural; e o núcleo central, fragmentado e disperso numa malha de linhas, ilustra a diversidade social, com roupas e chapéus de feitios diferentes, as caras esboçadas como máscaras africanas, reduzidas a um mínimo expressivo, e olhando para todos os lados da composição, no frenesi duma corrida anunciada.

A sofisticação destas soluções plásticas cinéticas passa assim pelo prisma da cultura popular, explorando a festa e o folclore, com uma vitalidade única entre as obras que a cercavam, fugindo ao monocromo cubista com uma gama original de cores térreas, aplicadas cirurgicamente sobre o dominante fundo branco, com esquemáticos cavalos verdes, azuis e amarelos, esguia e eclética, em várias poses, que desorientam os críticos, vendo-os como hieróglifos decorativos e exóticos.

Apesar do sucesso e do protagonismo inicial de Avant la Corrida, tendo sido comprada nove dias apenas após a abertura do Armory Show, em Nova Iorque, pelo pintor Robert Winthrop Chanler,*** só foi relocalizada um século depois, em 2006, pela Fundação Calouste Gulbenkian, que de imediato a adquiriu e mostrou, na exposição Diálogos de Vanguarda.

 

Afonso Ramos

Julho de 2013

 

* Vendo os quadros no Armory Show de Chicago na mesma sala, o importante pintor americano Manierre Dawson compra, coincidentemente, o estudo para este Nu (1912) de Marcel Duchamp e Retour de la Chasse (1911) de Amadeo – faltando-lhe o dinheiro para a terceira obra que elegeu entre as melhores que ainda estavam à venda, o La Femme au pot de moutarde (1910) de Picasso.

** Amadeo esteve na primeira exposição futurista em Paris, pertencendo ao círculo de amigos de Boccioni e Carrà, que criam também em 1912 as suas obras icónicas na figuração do movimento.

*** Além desta tela, a mais cara das sete obras que Amadeo vendeu no Armory Show (800 francos), o artista americano que encontra no português paralelos à sua própria obra, compra-lhe também uma aguarela, Marine (50 francos).

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