• 1973
  • Tela
  • Tinta acrílica
  • Inv. 83P774

Júlio Pomar

Annie

Este retrato de Annie, integrante de uma série de três, insere-se numa fase da produção do pintor em que explora recorrentemente este género. As múltiplas variações que por vezes realiza sobre o/a mesmo/a retratado/a tendem a tornar-se progressivamente mais abstractas e, ainda que o autor sublinhe que a semelhança é fundamental, parecem sobretudo um pretexto para uma pesquisa eminentemente plástica.

 

Discorrendo sobre o processo do retrato, Pomar afirma: “(…) normalmente, a pessoa vem uma primeira vez duas ou três horas, e voltará depois duas ou três vezes. Durante a sessão, eu vou deixando correr a mão sem um grande controlo crítico, e quando a pessoa sai, começa o trabalho de apagar, de transformar, e às vezes tenho de começar tudo de novo”.*

 

O que observamos neste retrato, no qual emprega a linguagem que desenvolvia através da suas pesquisas em torno de Banho Turco, é uma experimentação sobre o recorte e a fragmentação das formas (advinda de Matisse), uma exploração sobre as potencialidades combinatórias das cores e a subversão da tradicional relação entre forma e fundo. Efectivamente, podemos descrever a obra como um fundo verde ao qual se apõe uma forma castanha, mas logo nos apercebemos (pela lisura das camadas de tinta uniforme e pelo recorte das formas) que a podemos descrever inversamente, já que as reentrâncias do verde pelo castanho constituem em si uma forma. Sinais de um retrato encontramo-los apenas na sugestão de olho, nariz e boca colocados sobre a mancha castanha, no centro da composição. Todas as outras formas ou fragmentos de forma tecem sobretudo um jogo formal e cromático entre si: as formas curvas laranjas e amarelas numa atracção mútua, as formas azuis mais rectilíneas sublinhando um eixo vertical e rimando entre si, as pequenas manchas brancas marcando um eixo imaginário da composição. As rimas entre tons parecem, no fundo, animar a composição ao ditarem trajectórias do olhar. O jogo da fragmentação e recomposição da imagem permanece assim aberto à ulterior e potencialmente infinita possibilidade do olhar do espectador a recompor.

 

 

Helena Vaz da Silva com Júlio Pomar, Lisboa, Edições António Ramos, 1980, p. 65.

 

 

 

Luísa Cardoso

Fevereiro 2015

TipoValorUnidadesParte
Largura114cm
Altura162cm
Tipo assinatura
TextoPomar
PosiçãoFrente, margem inferior à esquerda
Tipo data
Texto73
PosiçãoFrente, margem inferior à esquerda
TipoAquisição
DataJulho 1983
4º Prémio Amadeo de Souza-Cardoso: Júlio Pomar
Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso
Curadoria: Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso
13 de Setembro de 2003 a 2 de Novembro de 2003
Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso
Exposição realizada no âmbito da atribuição do Prémio Amadeo de Souza-Cardoso ao Mestre Júlio Pomar.
Atualização em 23 janeiro 2015

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