- 1971
- Rede, prato em loiça, copos de vidro, faca em inox, CD-Rom, madeira pintada de branco, nylon pintado a spray azul e algodão pintado.
- Inv. 78E608
Ana Vieira
Ambiente – Sala de Jantar
Ambiente – Sala de Jantar de Ana Vieira foi a primeira de uma série de três instalações Ambientes que a artista produziu entre 1971 e 1972. Constituída como dupla estrutura de tela translúcida e leve, ao modo de um labirinto sem peso, branco e azul, encerra no seu núcleo central uma mesa branca posta com copos, pratos e talheres, circunscrita por um primeiro paralelepípedo de tela azul suspensa, na qual quatro cadeiras em perspectiva surgem como formas ausentes, cujos contornos bem definidos enunciam paradoxalmente uma materialidade entretanto inexistente. Este “cubo” interior é por sua vez protegido e encerrado por outro maior que delimita o espaço da casa de jantar, separando-o do exterior. Neste último, os valores cromáticos invertem-se, as formas de objectos e móveis reconhecíveis do interior doméstico são agora simulados, pintados a spray azul sobre as doze telas brancas que constituem o perímetro da divisão: relógio de parede, consola, aparador, cómoda com candelabros, porta, janela de reposteiros, dois quadros ovais com flores, cadeira. Todos esses adereços são interiores mas, vistos de fora, qualificam esse espaço como um lugar que nos é simultaneamente familiar e estranho.
Composto segundo os critérios de um gosto médio algo tradicionalista, sobre o qual a artista parece ironizar, o Ambiente conduz-nos à meditação sobre os valores simbólicos associados à casa na cultura ocidental, no conjunto dos atributos contrários e relativos que são os seus: privado/público, interior/ exterior, cheio/vazio, sombra/luz, desejo/aparência… Enquanto projecto de índole cenográfica, esta instalação – como as restantes duas que Ana Vieira realizaria pouco depois – torna manifesta uma importante evolução da criação plástica da artista, desde a recriação pós-pictural de objectos de uso quotidiano em obras de anos anteriores, para um trabalho mormente relacionado com uma fenomenologia dos espaços físicos e sociais. Alimentando- se de um contraste entre o objecto tangível, o seu desenho e projecto como forma no vazio, os Ambientes constituem-se como cenários, pequenos teatros de sombras, completando-se com a introdução de elementos sonoros: registo de ruídos e sons associados ao usufruto dos espaços encenados, neste caso, uma casa de jantar onde os objectos elegantemente distribuídos e desenhados contrastam com os ecos e rumores de uma refeição partilhada.
No Ambiente – Sala de Jantar, o som envolve e cativa o espectador tanto quanto a imagem visual, na contemplação do encanto reservado e algo opressivo de um interior burguês, em que o rigor da disposição dos objectos torna evidente o lugar-comum da banalidade e da ordem imutável das coisas, como se de um santuário se tratasse. Recordamos então Jean Baudrillard, quando nos fala dos espaços e objectos como sistemas contraditórios de signos e códigos que aprisionam fatalmente a liberdade do ser*, aqui plasmados no azul, a mais imaterial das cores**.
Ana Filipa Candeias
Maio de 2010
* Jean Baudrillard, Para uma crítica da economia política do signo, Lisboa, Edições 70, 1981.
** Cf. Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, Dictionnaire des Symboles, Paris, Robert Laffont, 1987
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Altura | 200 | cm | |
Largura | 312 | cm | |
Profundidade | 312 | cm | |
Largura | 104 | cm | cada rede |
Tipo | Aquisição |
Data | Outubro de 1978 |