Peça doada ao CAM Fundação Calouste Gulbenkian em 1985 – dois anos após a abertura do museu – quando perfaziam seis séculos sobre a Batalha de Aljubarrota (14 de Agosto de 1385), onde portugueses e espanhóis se confrontaram e um dos antepassados de Cienfuegos, Gutierre Bernaldo de Quirós, morreu. A batalha campal foi uma terrível derrota para o exército espanhol, apesar de mais numeroso, e uma vitória portuguesa que em muito se deveu ao recurso às paliçadas.

 

O crítico de arte Kevin Power e autor da obra Cienfuegos: Tapestries (Istmo, 1985), em texto enviado quando da doação ao então diretor do CAM, Arq. Sommer Ribeiro, acrescenta ao título Aljubarrota, o subtítulo «Homenagem aos Mortos», reforçando assim a ideia que a escultura é uma espécie de monumento funerário e descrevendo-a como uma alegoria à batalha campal nos seguintes termos:

«Figuratively the central section represents both the battle-field and the pits used as traps to capture the animals, while metaphorically it symbolizes the void of death, the slide into nothingness. Its colour is that of the ground, the scorched earth, the soldier’s grave. Flanking it on both sides are the dead soldiers. They form two compact and dramatic groups. Dark and silent, they cluster and hover around their burial-place. They appear like the pipes of a baroque organ and the mute deep sounds of their liturgy soar through the air».

 

As cores são uma das marcas autorais de Cienfuegos que procurou introduzir na tapeçaria a linguagem moderna e abstrata e autonomizá-la da pintura, a este propósito afirmou: «copiar un cuadro com lana es una tarea absurda y de resultado negativo» (in http://www.aache.com/alcarrians/cienfuegos-htm ).

 

As cores são as cores naturais de lã de ovelha, branca ou preta e depois misturadas, para os tons mais claros e nomeadamente os dourados, Cienfuegos utilizava uma técnica antiga dos afegãos que é a de embeber a lã em urina de cabra. Também o tear e a técnica com que tecia eram tradicionais, a dos tapetes franceses Gobelin. Em Aljubarrota as cores, preta e castanha, são também uma evocação das cores de Castela na Idade Média, mais uma vez a leitura de Kevin Power é incontornável: «The two darker tones are used on the bodies of the soldiers, breaking the monotony of the black without destroying its harmony. This subtle variation also allows a slight minimal suggestion of movement in the overwhelming immobility of the mass. The dominant sensation is one of the silence, a grouping of dark figures around the grave…»

 

Isabel Carlos

 

Março de 2013