- Papel
- Litografia
- Inv. GP1394
Júlio Pomar
A refeição do menino ou almoço
Se Almoço do Trolha (óleo sobre tela, datado de 1947) se tornara um símbolo do movimento neo-realista, quatro anos depois Júlio Pomar volta ao tema nesta gravura, mas com uma linguagem completamente distinta.*
Se na tela de 1947 a cena é situada no local de trabalho do trolha, nesta gravura de 1951 Pomar não explicita a situação profissional da família, situando a mesma em primeiro plano e construindo o segundo e terceiro planos através da representação de mobiliário (como uma mesa com um pedaço de melancia) e de formas não claramente identificáveis (como o volume onde poisa o pássaro ou o volume de formas pontiagudas que enquadra a cabeça da mulher). O cenário, contudo, parece apenas funcionar como o enquadramento social para a acção que se desenrola: o pai a dar o almoço ao filho que a mãe sustenta ao colo. Desta diferença narrativa — evidenciada pela diferença de título — e do distinto tratamento plástico se constrói a distância que medeia Almoço do Trolha e A refeição do menino ou almoço. Não é que a representação dos rostos não guardem uma dureza de expressão ou que a descrição cenográfica não aponte e denuncie uma situação social de pobreza, como era a intenção neo-realista. Mas há agora uma “suavidade descritiva” no desenho que subtrai parte da anterior agressividade visual com que o tema fora tratado.
Reflectindo sobre esse momento da sua produção e sobre essa fase do movimento neo-realista, Pomar afirma: “Entre aqueles que se afirmavam dentro dos princípios da corrente [neo-realismo], alguns perigosos caminhos começaram a desenhar-se. Um lirismo, complacente, tende a substituir a agressividade dramática das primeiras tentativas. A procura de soluções formais começa a sobrepor-se ao vigor do conteúdo; e isto não reflecte senão um alheamento dos problemas realmente vivos. Boa parte do que pintei no anos de 49 a 51 oferece tais características, e desvios de tipo análogo marcam a obra plástica de Mário Dionísio.”**
Dito de outro modo: o “vigor do conteúdo” é indestrinçável da forma que o expressa. Porém, findas as esperanças de democratização do regime que se seguiram à II Guerra Mundial e que marcaram o arranque do neo-realismo, talvez não seja de estranhar que assim fosse.
* A presente obra surge datada de 1951 em Júlio Pomar. Catálogo ‘Raisonné’ I. Pinturas, Ferros e ‘Assemblages’. 1942-1968, Paris, La Différence, 2001-2004, p. 294.
** Júlio Pomar, jornal O Comércio do Porto, 22.12.1953, citado em Arte Portuguesa nos Anos 50, Beja, Câmara Municial, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1992, p. 49.
Luísa Cardoso
Fevereiro 2015
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Altura | 44,6 | cm | papel |
Largura | 63,5 | cm | papel |
Tipo | A definir |
Data | A definir |