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Júlio Pomar

A refeição do menino ou almoço

Se Almoço do Trolha (óleo sobre tela, datado de 1947) se tornara um símbolo do movimento neo-realista, quatro anos depois Júlio Pomar volta ao tema nesta gravura, mas com uma linguagem completamente distinta.*

Se na tela de 1947 a cena é situada no local de trabalho do trolha, nesta gravura de 1951 Pomar não explicita a situação profissional da família, situando a mesma em primeiro plano e construindo o segundo e terceiro planos através da representação de mobiliário (como uma mesa com um pedaço de melancia) e de formas não claramente identificáveis (como o volume onde poisa o pássaro ou o volume de formas pontiagudas que enquadra a cabeça da mulher). O cenário, contudo, parece apenas funcionar como o enquadramento social para a acção que se desenrola: o pai a dar o almoço ao filho que a mãe sustenta ao colo. Desta diferença narrativa — evidenciada pela diferença de título — e do distinto tratamento plástico se constrói a distância que medeia Almoço do Trolha e A refeição do menino ou almoço. Não é que a representação dos rostos não guardem uma dureza de expressão ou que a descrição cenográfica não aponte e denuncie uma situação social de pobreza, como era a intenção neo-realista. Mas há agora uma “suavidade descritiva” no desenho que subtrai parte da anterior agressividade visual com que o tema fora tratado.

Reflectindo sobre esse momento da sua produção e sobre essa fase do movimento neo-realista, Pomar afirma: “Entre aqueles que se afirmavam dentro dos princípios da corrente [neo-realismo], alguns perigosos caminhos começaram a desenhar-se. Um lirismo, complacente, tende a substituir a agressividade dramática das primeiras tentativas. A procura de soluções formais começa a sobrepor-se ao vigor do conteúdo; e isto não reflecte senão um alheamento dos problemas realmente vivos. Boa parte do que pintei no anos de 49 a 51 oferece tais características, e desvios de tipo análogo marcam a obra plástica de Mário Dionísio.”**

Dito de outro modo: o “vigor do conteúdo” é indestrinçável da forma que o expressa. Porém, findas as esperanças de democratização do regime que se seguiram à II Guerra Mundial e que marcaram o arranque do neo-realismo, talvez não seja de estranhar que assim fosse.

* A presente obra surge datada de 1951 em Júlio Pomar. Catálogo ‘Raisonné’ I. Pinturas, Ferros e ‘Assemblages’. 1942-1968, Paris, La Différence, 2001-2004, p. 294.

** Júlio Pomar, jornal O Comércio do Porto, 22.12.1953, citado em Arte Portuguesa nos Anos 50, Beja, Câmara Municial, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1992, p. 49.

Luísa Cardoso
Fevereiro 2015

TipoValorUnidadesParte
Altura44,6cmpapel
Largura63,5cmpapel
TipoA definir
DataA definir
Atualização em 08 setembro 2023

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