Tal como na escultura que criou nos anos 80, também o desenho coevo de Rui Sanches se erigiu em torno da desconstrução de pinturas neoclássicas. É o caso deste trabalho. O referente pictórico é evidente e claramente legível no recurso à citação da tela “A morte de Marat” (também conhecido como “à Marat”, pela inscrição que o artista deixou), do pintor neo-clássico francês Jacques-Louis David.
Partindo desse pretexto, inscrevendo-se assim na tradição, o desenho é depois trabalhado como uma superfície que, intervencionada, restitui ao nosso olhar a noção de uma estratificação e de uma herança apropriada e personalizada.
Como tantas vezes acontece no desenho deste autor, a intervenção da linha (e da mancha) dá-nos a dimensão dos planos compositivos. Mesmo a fechar a década, A Marat ainda nos deixa espreitar o referente, antes mesmo de este desaparecer e de o trabalho de Sanches se desenvolver em torno de uma linguagem mais orgânica.
EF