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  • Inv. DP1421

Júlio Pomar

4 Arlequins

Esta obra integra o conjunto de desenhos preparatórios que Júlio Pomar realiza para a sua intervenção na estação de metro do Alto dos Moinhos, em Lisboa. Optando pelo azulejo para revestir este espaço público,  escolhe para tema quatro poetas que no seu entender se relacionam com a mitologia da cidade — Camões, Bocage, Pessoa e Almada. Nas palavras do próprio: “A partir da análise as plantas da estação e da sua distribuição duplamente simétrica, definindo quatro áreas em tudo semelhantes, surgiu-me a ideia de evocar quatro poetas como lugar de marca na mitologia da cidade. Pessoa já andava pelo atelier, os nomes de Camões e de Bocage, presentes na memoria popular — por razões, aliás, aí tantas vezes alheias à sua invenção poética — eram inevitáveis. O número quatro completei-o com Almada que nos deixou uma das escritas mais visuais deste século — e, pessoalmente, não penso em Lisboa sem que me lembre dele. O conjunto seria, pois, a invocação dos quatro poetas: como o desenrolar de uma tentativa de os retratar. Dar cada um na irresolução do quotidiano, inscrevendo, à margem, uma ou outra alusão ao seu mundo.”*

 

No fundo, a “tentativa de os retratar” e as “alusões ao seu mundo” acabam por ser uma mesma coisa, já que é através dos universos literários que criaram (e plástico, no caso de Almada) que acedemos a estes poetas e é esse o prisma escolhido por Pomar para tentar os seus retratos. No retrato de Almada isso é particularmente evidente, já que, nas múltiplas tentativas de o retratar que podemos acompanhar através dos seus desenhos, observamos ora um Almada trajado de fato e chapéu, ora Almada vestido de arlequim; paralelamente, desenha também personagens facilmente identificáveis do seu universo plástico, como sejam músicos, saltimbancos, ginastas ou equilibristas. Assim, numa obra como a presente tanto podemos reconhecer uma figura do universo de Almada, como o próprio Almada desmultiplicado em quatro arlequins, aludindo por um lado às variadas facetas artísticas em que se desdobrou ou às personagens que o próprio nunca se inibiu de encarnar.

 

A sucessão de arlequins ao longo da horizontalidade da obra cria, desde logo, um ritmo à leitura da mesma, o qual é sublinhado pela verticalidade das figuras e pelo jogo de traços a marcador ora mais ténues, ora mais carregados e grossos. Os diferentes intervalos entre as figuras concorrem para o mesmo efeito e as distintas posições em que são retratados traduzem uma noção de desmultiplicação do olhar sobre o motivo. De traço muito depurado, de linhas eminentemente verticais e diagonais, a forma, aberta, é estruturada por vectores de força que animam e tensionam as figuras.

 

Pensado para um espaço público, de passagem rápida e desatenta, os arlequins desmultiplicados e sintéticos acompanhariam o movimento apressado dos transeuntes, podendo por estes ser captado num relance e animados pelo próprio movimento do caminhar.

 

* Júlio Pomar, Pomar: Um ano de desenho: 4 Poetas no Metropolitano de Lisboa, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian/ Centro de Arte Moderna, 1984, s/ p.

 

 

 

Luísa Cardoso

Fevereiro 2015

TipoValorUnidadesParte
Altura110cmpapel
Largura172cmpapel
Altura123,2cmmoldura
Largura185,2cmmoldura
Tipo outras
Texto65
Posiçãoverso
TipoA definir
DataA definir
Atualização em 23 janeiro 2015

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