Amadeo de Souza-Cardoso

Le Prince et la Meute / O Princípe e a Matilha
1912

Galeria


Informação técnica

Autor(es)
Amadeo de Souza-Cardoso (Manhufe, Portugal, 1887 – Espinho, Portugal, 1918)
Título
Le Prince et la Meute / O Princípe e a Matilha
Data
1912
Materiais e meios
Tela; Óleo; Preparação; Carvão; Verniz
Dimensões
Altura 99,50 cm (tela); Largura 80,50 cm (tela)
N.º de inventário
86P153

Inscrições

Tipo
Assinatura
Descrição
A. de S. Cardoso
Posição
Canto inferior direito
Tipo
Data
Descrição
1912
Posição
Canto inferior direito
Tipo
Local
Descrição
Paris
Posição
Canto inferior direito

Incorporação

Tipo
Aquisição
Proveniência
Lucie de Souza Cardoso
Data
01-05-1987

Texto

Le Prince et la Meute foi uma das oito obras que Amadeo levou ao histórico Armory Show (1913), estando entre as que causaram choque pela intensidade da desorientação e decomposição espacial cubista, e a única deste artista que ficou por vender, por ser a mais cara. A origem da composição encontra-se numa das ilustrações para La Légende de Saint Julien L’Hospitalier de Flaubert, que Amadeo publica nesse ano, embora o motivo da figura a cavalo, na qual o animal encarna a força dinâmica de imagem – muito recorrente na iconografia das vanguardas, na primeira metade da década de 1910 (p. ex. Boccioni, Duchamp-Villon, Kandinsky, Macke, Marc e Severini*) –, tenha particular relevo para Amadeo, como elemento da mitologia pessoal, e o seu tema constante, sofrendo sempre as mais drásticas reinvenções plásticas de 1911 a 1913, como nesta fase de extrema geometrização, com resultados inesperados, desde Avant la Corrida, que esteve exposta ao lado desta tela, ambas formalmente unidas a obras como Dom Quixote ou (Cavaleiros).

Ocupando o centro do quadro, um príncipe engalanado e maneirista, posa altivamente do alto de um cavalo, ambos de perfil, congregando, com matemático rigor, uma matilha simétrica de galgos, e eventualmente de coelhos e um falcão, a seu lado. São os intervenientes habituais do imaginário medieval que Amadeo define com insistência neste ano, em fictícios cenários exóticos de florestas, com uma copiosa flora e fauna, e colorido vibrante. Todavia, este programa excêntrico de Amadeo, com todos os seus paradoxos e anacronismos, debate-se aqui com a intensa geometrização do espaço, tentando “dissociar os elementos plásticos da realidade”**, como outros artistas da vanguarda. O confronto torna-se visível na folhagem esquemática repetida por toda a parte, na essencialidade dos traços dos galgos que se interseccionam, ou nas manipulações da pose e da perspectiva do cavalo, gerando múltiplos planos e volumetrias que destilam a cena em linhas esguias e arcos elegantes, que estruturam ritmicamente a arquitetura desta imagem. O hibridismo particular em torno deste príncipe futurista, com todos os paradoxos e anacronismos que o acompanham, marcam um ponto de viragem na desconstrução do imaginário pessoal de Amadeo, enquanto processo criativo de experiências geométricas, e a razão pela qual talvez tanto estimasse esta obra.

 

Afonso Ramos

Julho de 2013

 

* Cf. Javier Arnaldo (coord.), ¡1914! La Vanguardia y la Gran Guerra, Madrid: Museo Thyssen-Bornemisza, 2009.

** “É por volta de 1910 que, numa interpretação cujo sentido jamais foi investigado, Picasso, Georges Braque, seguidos de Robert Delaunay, Juan Gris, Albert Gleizes, Jean Metzinger, Fernand Léger e, alguns anos mais tarde (…) de Souza-Cardoso, Marcel Duchamp, Picabia, Filla, se dedicaram a dissociar os elementos plásticos da realidade, utilizando o princípio da ruptura da linha adoptado pelo fauvismo. Cada um deu o seu contributo para a evolução desta tendência geral.” Maurice Raynal, L’Intransigeant, 16 de Junho de 1925.

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