Amadeo de Souza-Cardoso

Gemälde G / Quadro G
c. 1912 (data atribuída)

Galeria


Informação técnica

Autor(es)
Amadeo de Souza-Cardoso (Manhufe, Portugal, 1887 – Espinho, Portugal, 1918)
Título
Gemälde G / Quadro G
Data
c. 1912 (data atribuída)
Materiais e meios
Tela; Óleo
Técnica
Óleo sobre tela
Dimensões
Altura 51,00 cm; Largura 29,50 cm
N.º de inventário
77P2

Inscrições

Tipo
Local
Descrição
Paris
Posição
Verso, centro
Tipo
Assinatura
Descrição
A deS. CARDOSO
Posição
Canto inferior esquerdo

Incorporação

Tipo
Aquisição
Proveniência
Lucie de Souza Cardoso
Data
1977

Texto

Esta pintura, gémea de outra muito semelhante, vive de um jogo de formas circulares e elípticas ora opacas ora transparentes que se intersectam. Neste caso, Amadeo de Souza-Cardoso parece menos investido nos contrastes cromáticos, explorando uma paleta uniforme em tonalidades de verde e azul, com algumas aberturas mais claras. A pincelada solta, associada à atmosfera verde, transporta-nos para paisagens deste período que se aproximam da abstração. Além desta sugestão mais vegetal, dada pelo verde, surge outra hipótese algo aquática, insinuada pela transparência das formas circulares, possíveis bolhas de água ou de sabão em ascensão, sobretudo o círculo aberto no canto superior direito. Em última análise, outras obras de 1911, como Lévriers/Os Galgos ou The Leap of the Rabbit [O Salto do Coelho), oscilam precisamente entre o terrestre (dos cães, da montanha ou da vegetação) e o aquático (dos coelhos que parecem peixes devido às guelras e aos saltos). Gemälde G [Quadro G] foi uma das três pinturas de Amadeo selecionadas para o Erster Deutscher Herbstsalon [Primeiro Salão de Outono Alemão], organizado por Herwarth Walden e patente de 20 de setembro a 1 de dezembro de 1913, na galeria Der Sturm em Berlim. Daí o seu título, que se manteve em alemão. Curiosamente, a palavra Gemälde reforça a escolha da letra G, que se pode vislumbrar subtilmente entre as formas circulares. É muito provável que Robert Delaunay tenha contribuído para a participação de Amadeo nesta mostra, dadas as boas ligações do pintor francês com Kandinsky e a sua exposição individual anteriormente realizada na galeria Der Sturm. Contrariamente ao Armory Show, onde Amadeo vendeu sete das oito obras exibidas, a exposição na Alemanha, em 1913, não se traduziu num sucesso comercial, nem numa apreciação positiva, tendo sido enquadrada por uma receção tendencialmente negativa ao salão. Descobriu-se recentemente que o pintor já tinha participado na III. Juryfreien Kunstschau [III Mostra de Arte sem Júri], outra exposição coletiva na capital alemã, de 26 de novembro a 31 de dezembro de 1912 na Kunsthaus Lepke.* Enquanto K. M. Burg, a propósito do Erster Deutscher Herbstsalon, condenava ao fracasso e à inutilidade as obras do futurista Carlo Carrà e Der Athlet de Amadeo de Souza-Cardoso** — quadro entretanto desaparecido mas preservado por uma fotomontagem e pela reprodução no catálogo —J. von Bülow elogiou as paisagens de Amadeo na Juryfreien Kunstschau, valorizando a sua dimensão decorativa e o uso da cor, que o distanciava agradavelmente da monotonia cinza do cubismo.*** Com estes novos dados, a afirmação de Frederick James Gregg de que Amadeo era apreciado em Berlim e Moscovo****, bem como a persistência de Helena de Freitas em aprofundar as afinidades entre Amadeo e a cultura germânica ganham especial sentido*****.

 

Marta Soares

 

* III. Juryfreie Kunstschau Berlin 1912, Berlin: Kunsthaus Lepke, 1912, p. 6.

** K. M. Burg, “Kunst. Der Erste Deutsche Herbstsalon”, Das Kleine Journal, 29 de setembro de 1913.

*** J. von Bülow: “Paris auf der Juryfreien Kunstschau in Berlin”, Kunstchronik, nº 18, 31 de janeiro de 1913, p. 253. Agradeço a Günter Berghaus e a Irene Auerbach a gentil partilha desta crítica.

**** Frederick James Gregg, “Letting in the Light”, Haper’s Weekly, 15 de fevereiro de 1913, citado por Catarina Alfaro, “Fotobiografia”, in Helena de Freitas (coord.), Amadeo de Souza-Cardoso. Catálogo Raisonné: Fotobiografia, Lisboa: CAMJAP Gulbenkian; Assírio & Alvim, 2007, p. 186.

***** Ver Helena de Freitas, “Amadeo de Souza-Cardoso”, in José-Augusto França (ed.), Congresso de Arte Portuguesa Contemporânea, Funchal: Instituto Superior de Artes Plásticas da Madeira, 1988, pp. 104-107.

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