- 1997
- Tela
- Tinta acrílica
- Inv. 97P527
Pedro Casqueiro
Galeria
Integrando o movimento de “regresso à pintura”, Pedro Casqueiro pertence (com Ana Vidigal) a uma segunda vaga da designada “geração dos anos 80”, cuja formação cívica e cultural revelou exacerbação de valores individuais e subjectivos, desinvestimento na intervenção política e na erudição académica e uma exaltação dos valores da cultura urbana Pop-Rock (musical e visual) que marcou uma definitiva viragem cultural do panorama mundial e português. A sua pintura inicial foi convulsiva e desregrada, feita de matérias heteróclitas e excessivas, cromaticamente inesperada, admitindo quer a abstracção gestual quer a figuração expressionista, usando letterings ou definindo incipientemente alguns espaços, marcando e desmarcando lugares dinâmicos e expansivos do corpo e para o corpo, e do olhar e para o olhar.
Progressivamente, Casqueiro foi moderando os seus recursos matéricos e cromáticos e conduzindo a obra para superfícies de grande limpidez. A mesma evolução se verifica a nível da composição, onde não se pode dizer que tenha havido simplificação mas sim clarificação da grelha complexa que sempre determinou os seus trabalhos. Finalmente, mantendo o mesmo grau de radical subjectivismo, Pedro Casqueiro evitou coincidências entre valores pictóricos expressionistas e intenções temáticas, concentrando o esforço das suas obras na exploração de jogos de linguagem que aprofundam o papel inicial dos letterings ou que transformam as pinturas em ricos jogos de citações visuais.
Galeria faz já parte do período de maturidade desta evolução. A estrutura compositiva é clara e faz coincidir a abstracção da grelha com a revelação figurativa de uma construção arquitectónica simples, mas espacialmente rica. A cor é de completa acalmia e uma paleta de cores neutras ou frias, carregadas de cinzas ou terras consegue construir os jogos de profundidade espacial necessários ao enriquecimento da referida grelha. A textura é inexistente e a imagem funciona como um ecrã ou uma projecção em ecrã. A ausência de qualquer figura humana, inscrição ou sobressalto de outra espécie, acentua a frieza, solidão ou abandono a que a imagem nos conduz. O facto de ter por título Galeria (e os títulos são escassos em Casqueiro) pode ter um suplemento irónico de sentido, dimensão que não é rara no conjunto da obra do autor. Este espaço vazio, evidente arquitectura modernista, pode esperar uma “exposição” de pinturas, previsivelmente a desta mesma série, o que estabelece um propositado processo auto-referencial e subjectivo onde a melancolia se contrapõe à inicial euforia da sua pintura.
João Pinharanda
Maio de 2010
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Altura | 156 | cm | |
Largura | 273 | cm |
Tipo | Aquisição |
Data | Setembro 1997 |
Linhas de Sombra |
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian e Centro de Arte Moderna, 1999 |
ISBN:972-635-115-4 |
Catálogo de exposição |
Linhas de Sombra |
Fundação Calouste Gulbenkian |
Curadoria: Fundação Calouste Gulbenkian |
29 de Janeiro de 1999 a 18 de Abril de 1999 Lisboa |
Exposição comissariada por João Miguel Fernandes e Maria Helena de Freitas e programada por Jorge Molder e Rui Sanches. |