Nova vitrina no núcleo de Arte do Oriente Islâmico
O artista Praneet Soi (Calcutá, 1971) foi convidado a realizar aquela que é a penúltima exposição do ano 2018 no espaço Conversas, situado na Galeria do Piso Inferior. No Museu, uma vitrina junto do núcleo de Arte do Oriente Islâmico expõe alguns dos objetos que fizeram parte do processo criativo do artista enquanto explorava e equacionava possíveis relações com a Coleção do Fundador e as suas vivências. A vitrina cria o elo de ligação e estabelece o diálogo entre o museu e a exposição de Praneet Soi, possibilitando ao visitante o contacto envolvente com o processo de desenvolvimento que esteve na origem da instalação.
O subtítulo da exposição [De Caxemira a Lisboa via Caldas] remete para a ideia de viagem e respetivo itinerário do próprio artista. Foi através de uma visita a Srinagar, capital de Caxemira, que Soi se deparou com um monumento em ruínas – o mausoléu de Miran Zain, mãe do 8.º sultão de Caxemira, Zain-Ul-Abidin (1420-1470) – enquanto caminhava junto à margem do rio Jhelum. O particular revestimento cerâmico cativou o artista e motivou-o a interpretar o mesmo motivo na Fábrica Bordallo Pinheiro, nas Caldas da Rainha. Na fábrica, Soi expôs a ideia e, prontamente, as hábeis mãos do artesão Vítor Formiga interpretaram o padrão, ao qual o artista deu o nome de azulejo Rainha.
Em Lisboa, Soi deambulou tanto pelas ruas da cidade como pelos corredores do Museu e das reservas. Numa visita às reservas, o artista deparou-se com um belíssimo cofre de madeira, encomendado por Calouste S. Gulbenkian. O pequeno contentor, composto por diversas gavetas, alberga a valiosa coleção de moedas gregas e romanas. Soi interessou-se instantaneamente pelas moedas gregas e romanas, mas seria um conjunto de moedas do Médio Oriente (de dinastias islâmicas e pré-islâmicas) que acabaria por captar a sua atenção. Estas misteriosas moedas foram oferecidas a Gulbenkian e são consideradas extracoleção por não estarem catalogadas. Fascinado pela imagética destas moedas, Soi decalcou-as em papel vegetal e levou consigo a prova material.
Ainda nas reservas, o artista visitou o setor dedicado à Arte do Oriente Islâmico. Os azulejos Iznik prenderam-lhe o olhar, mas foram os relevos e as texturas de um azulejo persa, do período seljúcida, juntamente com a particularidade da sua cor –semelhante à do revestimento cerâmico do mausoléu de Miran –, que lhe despertaram a curiosidade. Os interesses do artista foram evoluindo à medida que o mesmo se foi envolvendo no projeto e familiarizando-se com a Coleção do Fundador. Os encontros fortuitos que ia tendo, de cada vez que revisitava o Museu, guiaram-no na seleção de objetos e contribuíram para a ideia de museu como fábrica, um espaço em constante transformação e lugar de eleição para a conceção de novas ideias.
Diogo Marques
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